quarta-feira, 24 de julho de 2024

a vida e as brisa da vida

a vida e as brisa da vida
sem pretensão de falar bonito
só falar sincero
ao menos assim eu espero
já que nem sempre
a mente tá sagaz
de vez em quando rasteira
pra tu não esquecer
que aqui nesse planeta
ainda tem muito que se aprender

a vida e as brisa da vida
dia de sol me levei pra passear
fumei brisei 

a vida e as brisa da vida
um abismo no meio do caminho
anda e salta ou cai
essa é a única escolha
desce rápido
no chão atortoado
levanta o rosto marcado
pela maldição no meio do caminho
se arrasta ou espera um pouco essa porra passar
é solitário no fundo do abismo
nada é familiar
é tudo recomeço
levanta anda tropeça 
cuidado com teus passo
refaz cada pensamento que 
entrou na frente de cada sentimento
de sempre ter sabido o que fazer
e ainda assim não ser
nada além das escolhas que eu fiz
condicionado pelo que absorvo
ainda assim ser não de livre arbítrio pra escolher o que vai acontecer
mas de libre arbítrio de levantar e continuar a caminha

e anda
anda
sem saber ainda direito o que tá acontecendo
será que um dia soube
eu sei lá
eu sei lá

a vida e as brisa da vida
coisa boa esse negócio de jogar no papel
o que a vida vai sendo
sem pretensão de viver bonito
mas de viver sincero
assim espero

a vida e as brisa da vida
tudo contida
num mesmo dia
da tristeza de certas lembrança
à coruja no fio de luz olhando pro sol
da confusão de uma noite de sonho estranho
à leveza de uma praça num dia de sol
que bonito esse mundo escroto
que desastre não viver a vida
não que eu viva

(cicatriz) 

sábado, 20 de julho de 2024

se relacionar

se relacionar
até consigo mesmo às vezes é embaçado 
e sem ver direito fica difícil saber pra onde anda

o que atrapalha talvez seja
a ânsia de prever o próximo passo
no caminho de tudo que pode ser

se comigo eu tô suave
me levando pra passear por aí 
deitando na grama depois de chapar
ouvindo um som e pensando na razão de uma coruja sentar no fio de luz em plena tarde de sol

até coruja ficou com saudade do sol

se comigo eu tô suave
(ainda que sempre em meio aos meus próprios processos de dor e desamor de rotina)

me permito meio que involuntariamente me abrir pra além de mim

me vulnerabilizar 

e tudo acontece meio que por conta própria 
(na verdade, nunca dependeu de mim; a mim, cabe só me adaptar e aceitar o fluxo do rio ou atrapalhar tudo colocando a mente na frente)

sou bicho 
demasiadamente cansado

de estragar, de repetir ciclo, de levantar depois de cair

sou gente
demasiadamente descontente 
com a caminhada decadente 
do que me foi ensinado lá atrás 

mas já faz um tempo que parei de tanto lamento
o que a gente podia ter sido? pra onde isso podia ter ido?

a gente eu
e a gente nós 
saca?

é tanto desengano em relação ao amor

e é tudo tão simples:
mas a mente complica o que faz da gente bicho humano gente

a gente evita o cheiro da gente
a gente enfeita o gosto da gente

pra gente parecer outro tipo de gente
achando que tá além do bicho
que ser humano é coisa além do natural

quero cheiro de gente, gosto de transparência densa
não de disfarce.

a pele que habito 
fala por ela 
no toque suave

natural movimento de corpos que se transbordam, de si pro outro, do outro pra si,

no choque do acordar do lado de um rosto recém desperto

a sensação do calor que passa daqui pra lá 
e de lá pra cá 

traz junto o que a gente é e verdade,
bicho gente humano 
que é feito de luta, mas também de carinho de afeto real de acolhimento sincero

nessa mistura confusa 
que tamo há mais de milênio tentando decifrar

essa coisa doida de se relacionar
e que fica ainda mais doida 
quando a gente sente que precisa fazer isso sem protocolo

apenas pelo que isso pode ser
tipo de se entender em outro ser
dar um pouco de si
pegar um pouco do outro
se tornar um sem nunca deixar de ser dois e sem nunca deixar de ser parte do todo social bonito que faz da gente gente

nada te completa
por que tu nasceu inteiro
vai viver
desejar
se permitir fazer o que sentir
e não deixa que ninguém te feche os caminhos não
abre abre caminho
deixa passar o que hoje eu sinto 
deixa eu escolher pra onde andar

vou por aí 
ver qual é 
fico por aqui
sem saber

sigo a linha
e peço licença pra de ver em quando
terminar em paz.

sexta-feira, 19 de julho de 2024

Dois anos e meio mais tarde

seguindo adiante
andando às vezes bem devagar

tá tudo tão diferente
(tudo esclarecido 
nada resolvido)

nada menos confuso
a vida se tornou até que bonita em meio àquele caos
esse bolo não tinha receita
e hoje eu receio pouco
(minto?)
ando mais no improviso
e escrevo pra não esquecer
dos erro que eu vou fazer de tudo 
pra nunca mais cometer

espero saber falar e silenciar quando precisar
"tô aqui pra tu"
"tá foda mesmo, mas se nois tá junto nois samba na cara do persegue

(pra onde é que tu foi, parceiro?)

escrever isso aqui é parte da intenção 
de haver mais honestidade da minha parte com as coisas que sinto

"vai passar, irmão" queria ter te falado

a caneta hesita, o traço fica lento
porque já falei, pensei, senti, decidi
tanto nos últimos 2 anos e meio

já entendi que eu te deixei ir
porque aqui tu foi o Nick
aí tu é além Nick
que brisa doida de pensar

um dos mano mais firmeza que eu podia encontrar
a gente percebeu o sentido dessa porra toda juntos

olha, que doido, onde isso aqui chegou
sem eu nem saber, primeiro bateu aquela tristeza do que tudo já foi

aí veio a caneta, o som, a ganja, a Sky pedindo um carinho

e alguma coisa aqui por perto de guiou à lembrança 
de que tu pode não tá aqui mais fisicamente

mas a gente 
VIVEU
coisa pra caralho

cada rolê doido
cada ideia trocada sobre tudo

o que é ser, num ser, num sei, vamo toma uma bera, vamo dançar música doida no meio do mato, trombar outras maninha e outros maninho firmeza no meio do caminho pra compartilhar isso aqui tudo junto

... isso enquanto a encruzilhada não chegar
meramente pra cumprir o que sempre foi evidente

AH, deixa o fim pra lá, porra

SIM

lembra de quando, no meio de um rolê 

lisérgico

em festa doida com gente estranha que nem se flagrava
mas tava ali
celebrando a vida junto e tirando uma brisa doida no meio do caminho
só porque sim

uma hora a gente se olhou, meu mano
e até hoje nem lembro se eu falei pra tu ou se tu falou pra mim:
    
        "A gente veio do mesmo lugar!"

a mente na hora explodiu do mesmo jeito que a tua
e eu sabia disso só de olhar teu olho brilhando vida 
brilhando a curiosidade boa de se perceber

e é disso que eu vou lembrar:

A GENTE VEIO DO MESMO LUGAR!

a gente veio
do mesmo lugar

a gente VEIO
          do mesmo lugar...

respiramos o mesmo ar,
coexistindo ao mesmo tempo
da mesma mãe 
na mesma terra
mesma substância 
matéria 
contexto
andando no mesmo solo
acertando 
e repetindo certos tropeço 

Desconheço 
qualquer coisa que vai fazer a vida valer tanto quando perceber, com você, irmão

que a vida é pra todo mundo viver

tenho só a agradecer
sem esquecer do que faz essa porra toda bonita:

a gente veio do mesmo lugar

e olha que trem doido esse negócio de escrever

de título premeditado pra um texto que achei que ia ser sobre mágoa 

mas que termina, 
como um afago.

hoje me levei

hoje me levei pra passear
tipo bicho mesmo
ver o sol pegar vento na cara
brincar de existir comigo mesmo
eu e a bike
fuma um antes de sair
se perde no som
por que eu gosto tanto de Lana Del Rei?
falei chapei
dancei um pouco na sala
fiz um carinho nos bicho
sky gato noia e miau
amo tanto ocês
me perdi nas ideia
atrasei o rolê
achei que ia sair cedo
hoje o sol saiu cedo
e eu saí em meio de tarde
em meio a uma mente tranquila depoisde um fino
por aí
ficar sozinho
ainda que sempre bem guiado
desenrolar minhas próprias ideia
entender de dentro um pouco mais do que acontecendo
quanta coisa irmão!!!!
agora tá mais tranquilo ficar dentro da minha cabeça
aprendi umas coisa nesses últimos tempos
doeu bastante
hoje ainda dói
mas eu tô aprendendo a caminhar
sabendo que nunca o que foi vai voltar a ser
e que é de agora que tudo se faz
que eu sou tão importante quanto desimportante nesse espaço nesse tempo nesse contexto meio desgraçado mas ainda assim agraciado com todo o amor que tem acontecido ao redor
esse amor que me lembra que eu também preciso lembrar de amar o que eu sou
aceitar conscientemente um rolê tranquilo suave no sol ouvindo som

sangue latino correndo na veia
que nem meu cachorro meio pistola meio tranquila
um bom lugar se faz com boa gente
mesmo que andasse no vale das sombras nada temerei
vou por aí preciso me encontrar
rir pra não chorar
sabe?
pau pedra no meio do caminho tem
e também tem hora de parar e ficar olhando o céu fumar mais fazer vídeo besta
pra vibrar cada canto dominante no seu coração
eu choro para lhe lavar Odoya!
e canto para lhe dizer
que eu gosto tanto do mar
sinto saudades de sentar na areia fumar um negocin e ficar ouvindo as onda quebrar e vendo a espuma da onda azul esse azul é tão grande
meu caminho é tão longo e eu sou tão pequeno
e ao mesmo tempo sou filho de Ogum
levo no peito a marca do guerreiro
rasgada a lâmina crua
sange coagulado não carrega vida
sai sai de dentro de mim o que aqui não pode ficar
eu sei que pó eu sei que mata
somos mistura
somos doçura
somos beleza
somos candura
somos a festa
somos a cura
somos a mágoa dessa estrutura

São Jorge venha me proteger
do que eu não consigo ver
dos movimentos em que eu hesito
dos momentos em que parecer que a luz foi pra outro lugar

entendi que eu preciso caminhar
hoje vou pedalar até querer pra casa voltar
parei por aqui
olha esse sol
e a lua cheia ao mesmo tempo no céu 
dia abençoado 
sendo guiado pelo sol e pela lua lado a lado

nossa
brisei
nossa
que que aconteceu aqui
vish
tava ali daí veio as palavra tudo

obrigado por me ajudarem a ser, palavras
a desdobrar o que precisar fluir
a resgatar o que eu não posso esquecer

eu só sei que gostei
dia comigo me fazendo bem
protegido e guiado
por quem não vejo mas sinto
e por quem tá aqui e anda no vale das sombras junto com a gente quando ele chega
por ele chega

é dia de sol
dia de lua
tudo ao mesmo tempo no céu

tudo meio incrível e meio horrível tudo meio que ao mesmo tempo

jurei mentiras e sigo sozinho
assumo os pecados
os ventos do norte não movem moinhos
e o que me resta é finalizar tranquilo

na incerteza de ser o que sou por aí
de alma cativa
sangue latino
e veia pulsante

pulsa
pulso
pulsa
pulsa firme que a vida é mar denso
água profunda

brasileiro de Brasil caído mas jamais vencido
deixa o amor terminar

ame!
a si ao outro ao que te possibilita ser
desse jeitinho aí que tu é
tu é tudo
e nada nesse mar que ele tem várias história bonita pra contar


quinta-feira, 27 de junho de 2024

B de várias fita

B de confusão

perdi as contas de quantas vezes na vida fiquei perdido sobre o que eu tava sentindo fazendo sendo digerindo

quando era criança

chegar perto de menina tudo certo

de menino só se fosse pra agir como se tivesse algo a evitar

ofender mostrar quem manda e quem obedece


B de meu azar foi ser uma criança pequena

ou B de benção? acabei nunca jogando esse jogo por cima

e aí acabei nem querendo depois

e achando isso tudo uma merda

bullying foi meu sobrenome por tanto tempo

que entre meus 7 e 9 anos eu literalmente não lembro

de nada além da dor de existir na escola

apesar de uma família tranquila

minha mente apagou todo o resto

quando olho lá pra trás 

sinto só um gosto indigesto


B de é lá bem lá atrás que todo certo e errado se forma

depois a vida é passar tentando resolver tudo os BO 

programado no inconsciente sem dó

menina com menino na dança da festa junina

pegar na mão das meninas? tudo certo

dos meninos? "coisa de viadinho"

encostar nos meninos só se fosse no "hoje não"

com a violência que mais tarde é transtornada em violência contra as mina

e amor recalcado pelos parceiro de roda de bar

em que se odeia quem não se enquadra

já que se um precisa se esconder

ai de quem se atrever a viver 

a sentir, a se permitir, a desejar o que se deseja

a repressão de qualquer afeto diverso na descoberta do desejo

se torna raiz profunda e doente

por dentro só a fragilidade do desconhecimento de si


muito antes

já se consolidava no inconsciente

que num tipo de ser humano se podia tocar

no outro tipo só se fosse pra esculachar 

reforçar seus armário em construção

lá no fundo da mente

pra depois que crescer não saber o que fazer

achar que viver é desejar possuir

produto, coisa, bicho, gente


e aí tamo aí

tudo fudido num mundo decaído deprimido ansioso até o talo sem saber o que fazer ser esperando o que vai acontecer o que vão fazer de você quando não tiver mais botão pra apertar engrenagem pra girar trabalho pra trabalhar alguém pra enriquecer caralho será que só nascemos pra se fuder?


nah

se não eu nem tava escrevendo isso tudo aqui

não sei qual é

mas vou vendo

ciente de que tem muita coisa acontecendo


B de cultura decadente

fui criança anos 90

momento de país recém parido pela ditadura

é liberdade que vocês queriam?

mercado externo chegou arrombando toda possibilidade de um futuro não colonizado

o tal do pensamento neoliberal

a gente não sabia bem o que era liberdade

mas sempre foi com a cara dela

aí então, ensinaram direitinho como convinha pra quem detém o controle da verdade do capital

"liberdade é liberdade de consumir e ser consumido"

e a infância é só o campo de prática inicial do que essa sociedade cansada quer de você


a ironia de viver escondido

B de banido do paraíso que isso tudo podia ser


B de aprende cedo: 

vai crescer

consumir

formar família

consumir

ter filho

consumir

arrumar trabalho

ser consumido

e esperar a sua vez de morrer

consumido da pele aos ossos pelos vermes que te aguardam 

na fome de acabar com essa babaquice toda que essa porra se tornou


B de 1988, sou da geração filha da constituição, do começo da internet e de sonho comprado a prazo pra um futuro inexistente


B de nesse quadrado quase ninguém se encaixa

mas todo mundo tenta

porque "é o jeito, tem os boleto tudo pra pagar"

fora disso é perigoso

ou um lado ou outro

escolhe


e aí eu escolhi até perceber que eu num escolho é nada

vai acontecer o que for pra acontecer

agradece se tu tá em movimento

até sua ação depende do que fizeram de você

e isso inclui atração e a sorte de se permitir perceber

de repente

um dia fiquei sabendo que existia uma tal de letra B


B de fronteira entre aqui e lá posicionado sem lugar pra sustentar essa vida toda de desentendimento 

de quebrar a martelada o armário em que eu não mais me encaixava


B de passei tanto tempo me confundindo com as letra tudo

mas hoje tô calejado de tanto fazer revisão


de tanto ficar tentando ser só o que sou

acabei sendo,

e vou ainda revendo


B de cautela eterna pra não me tornar o que não vai ajudar


B do que eu quiser

raiva desgosto com esse mundo escroto

ou da suavidade de um dia começando com café

de final sem rima até

ou com ela pra adocicar

esse gosto amargo de ter demorado tanto pra perceber


que viver

devia 

ser 

só o que se é.

terça-feira, 14 de maio de 2024

um monte de coisa e nada

tô precisando de um fluxo de pensamento aqui sair escrevendo sem saber bem pra onde vou tem tanta  coisa pra organizar tanto pensamento pra lidar várias fita pra fazer em casa de trampo de vida social de vida mental espiritual física que só meu tarja preta pra conter voltei a tomar remédio há uns 6 meses, não é bem tratamento é mais uma trava no monte de coisa ruim que tava rolando aqui dentro pra gente ir trabalhando de dentro pra fora aos poucos 

queria era lidar com isso tudo usar umas vírgulas mas em geral não tenho pontuado muito na vida e em todos esses quesitos me sinto uma bagunça ao mesmo tempo que aparentemente tá tudo fluindo bem melhor do que antes 

acho que o pior já passou e antes eu tinha achado isso tantas vezes que eu só tentei parar de achar até concluir que o melhor era parar de tentar no geral só que o mundo é o mundo e a entropia vem sem dó desorganizando tudo aos poucos e se eu deixo o ritmo pra trás eu sinto que a vida fica pra trás 


a mente trava daí eu já nem lembro mais do que tava falando


acho que é questão de se organizar

dizem por aí que esse é o bang

se organizar

já fui apegado demais a uma rotina de acordo com o que eu imaginava que rotina fosse

sei lá o planeta tem a rotina dele ao redor do sol 

o sol ao redor de alguma outra coisa

a galáxia na dela rodando rápido demais não sei bem pra onde

tem esse padrão de continuação em meio a um espaço descontinuado

que anda e anda ao redor de si até que as estrelas se encontrem 

até que elas explodam se unindo violentamente ou a partir do contato delas com outros corpos celestiais ou de seu próprio fim

supernova criadora


uns anos atrás eu sentia mais os ciclos das coisas

hoje em dia sinto travas

mas acho que, pra variar, é só eu não tendo paciência

mas é difícil ter paciência às vezes nesse mundo que vem de atropelo em cada manhã 

e se eu não sigo esse bonde eu sinto que vou ficando pra trás

pra trás de mim

pra trás de quem

cheguei até a usar vírgula ali atrás


os dois gatos e a dog que vivem comigo são muito amados

mas também são meio difíceis

preciso conseguir dar banho na minha dog, mas ela morde muito forte sempre que contrariada

já perdi as contas de quantas vezes tentei e quantas vezes me ligaram falando que não iam conseguir porque ela é daquele jeito dela


e como eu culpo ela?

ela não gosta muito das pessoas, mas ao mesmo tempo gosta bastante das pessoas

ela tem aquele trauma

como culpar

ela tem esse trauma?

ela era muito mais tranquila quando meu irmão tava por aqui


puta que pariu, mano, por que cê teve que ir assim? eu ainda tô meio sem entender nada

processo escroto do caralho

muita coisa já ficou pra trás mas eu ainda preciso voltar a viver 

eu tô vivendo

tem tanta coisa acontecendo

e eu sei que eu vou viver pra sempre com o peso dessa derrota que foi te ver partir


pausa pra perceber como eu perdi a fé e ao mesmo tempo fui ganhando muita fé de novo

acho que tô no intermédio entre um lugar em que já estive muito ruim e esse lugar pra onde tô indo

que espero que seja bom

e o presente douglas onde fica o presente?

tenho tentado meditar, me encontrar, mas o mundo vem de atropelo

as merda não param de acontecer só porque você quer deixar o seu apartamento bonito

acho que tô falando isso tudo pra voltar aqui daqui um tempo e ver como tudo mudou


viu só, douglas, era só ter paciência

seguir fazendo o que precisa

tomando cuidado


toma cuidado, douglas

a gente tá descobrindo quem a gente é


mas segue caminhando, 

coisa estranha a vida

eu sei lá, queria que o mundo fosse um bom lugar

me sinto criança que não quer aceitar

que é só tudo uma grande merda que já foi jogada no ventilador muito muito tempo atrás


como eu mantenho essa esperança eu já nem sei

escrevi escrevi e porra nenhuma falei

mas falei bastante

saudades de você meu mano, espero que você esteja bem por aí, espírito de luz que partiu tão cedo

vou apagar isso não

que mania do caralho de escrever apagar escrever apagar

onde fica o flow

vai fluindo

vai lidando com o que é de lidar

e de resto segue forte

se fortalecendo

mas vivendo


6 da manhã de um dia frio de maio

o inverno vem chegando

terça-feira, 30 de abril de 2024

terra e sangue

Versão Slam

rio que deságua em solo árido
chão que te tomou faz tempo o que tinha de vida nas vista

solo sangrento
história apagada
dilacerada, disfarçada de 
"aventura"
"desbravamento"
"descobrimento"

piada pronta e nojenta

ódio aflorado no hoje 
na consciência desperta

cada irmão morto me deixa mais no veneno
depois de tudo as mordida dessa cobra de nome cascavel

todo lugar onde aqui tu pisa tem resquício de sangue derramado
em prol de um progresso que nunca foi teu

sujeito europeu pisou aqui

pensou
planejou

            executou)

qualquer semelhança com o presente é só a roda da história
ainda escorrendo o sangue de quem caiu e cai por baixo dela

é difícil às vezes manter a fé na gente
quando tá aberto o olho cheio de sangue da memória
e se percebe que a vitória é 

                                    da violência

derrota amarga
luta incessante

o mesmo sol que brilha hoje brilhou quando caiu 
cada corpo violado por cada mão estrangeira
que já tocou nessa terra brasileira

e falar de brasil, mano, chega a ser escárnio

adeus Pindorama, terra farta, de vida, de fluxo, de bicho, de planta e de gente
e também de sangue, suor e lágrima

porque paraíso é o caralho
é terra, planeta e a circunstância toda de ser humano
de ser gente
de ter no peito um coração que 
                                            sente))) 

chegaram de arrasto, de intenção e propósito claros, brancos

é difícil manter a fé, irmã
na possibilidade de um mundo bom
quando cada grão dessa soja podre 
é colhido ao nosso redor pra encher 
o bolso de algum arrombado engravatado

o agro é pop só na puta que pariu
aqui o agro é disfarce 
pra manter apagada a história que tu nunca viu

tamo tudo derrotado
só que nunca vamos parar de lutar

por quem caiu
por quem viu
por quem resistiu
por quem sangrou
por quem viveu e por quem morreu

                        e também por quem vive agora.

falam de progresso sem falar no processo, 
no extermínio, em cada retrocesso
em cada alma que partiu em nome do sucesso 
de quem tá no lado errado da história

                    e aqui não vai ter relativização/

desde lá de trás, gente da minha família já tirava a própria vida por não suportar existir
nesse lugar em que ou se resistia de cabeça baixa ou já se aprontava pra partir

é história de corda no pescoço, de tiro na própria cara, de desgosto,
de abuso de álcool e espancamento de mulher 
que gerou alguém, 
    que criou alguém, 
        que deu à luz alguém, 
            que teve um filho com alguém, 
                que ensinou alguém
                    que cuidou de alguém
                        que virou refém
                            que foi forte, além da própria sorte
                                que foi mãe de pai e mãe meus, 
                                    que, de alguma forma, se tornaram eu.

e aí de repente,
tô aqui

herdei a cor dos assassino
e herdei a dor do campo de extermínio que essa porra toda foi

eu morro
mas eu morro tentando
fazer disso aqui
um bom lugar

e essa veia aberta eu vou continuar a abrir
até todo sangue derramado coagular
pro que tiver que fluir
poder só desaguar num mundo em que seja possível realmente habitar

    viver
        florescer
            resgatar
                   terminar
                                
                            em paz.
________________________________

versão completa

movimento
momento presente
começando com mão leve
sabendo que o peso vem sem piedade
bora falar de verdade

o mundo é pêndulo
o humano: equilibrista

rio que deságua em solo árido
chão que te tomou faz tempo o que tinha de vida nas vista

solo sangrento
história apagada
dilacerada, disfarçada de 
"aventura"
"desbravamento"
"descobrimento"

piada pronta e nojenta

ódio aflorado no hoje 
na consciência desperta
pra que haja mais amor no amanhã
cada irmão morto me deixa mais no veneno
depois de tudo as mordida dessa cobra de nome cascavel

nada disso tá longe do que tu é não, parceiro
logo aí, habitava vida, do teu lado 
é improvável que onde tu pisa não haja resquício de sangue derramado
em prol de um progresso que nunca foi teu

sujeito europeu pisou aqui
"como é possível que isso tudo não se torne meu?"

pensou
planejou

            executou)

qualquer semelhança com o presente é só a roda da história
ainda escorrendo o sangue de quem caiu e cai por baixo dela

é difícil às vezes manter a fé na gente
quando tá aberto o olho cheio de sangue da memória
e se percebe que a vitória é 

                                    da violência

derrota amarga
luta incessante

o mesmo sol que brilha hoje brilhou quando caiu 
cada corpo violado por cada mão estrangeira
que já tocou nessa terra brasileira

e falar de brasil, mano, chega a ser escárnio

adeus Pindorama, terra farta, de vida, de fluxo, de bicho, de planta e de gente
e também de sangue, suor e lágrima

porque paraíso é o caralho
é terra, planeta e a circunstância toda de ser humano
de ser gente
de ter no peito um coração que 
                                            sente))) 

batizados conforme convém pra quem te consome
importados de terra distante
ignorantes por consequência   
fizeram a gente de aparência
meteram a mão no que essa porra tinha de mais precioso: a vida real
não essa palhaçada de trocar tempo por papel 

chegaram de arrasto, de intenção e propósito claros, brancos

a coroa da rainha virou enfeite em cabeça que infelizmente jamais caiu 
só se fortaleceu depois de cada banho de sangue
derramado de cada ser humano que aqui antes existiu

é difícil manter a fé, irmã
na possibilidade de um mundo bom
quando cada grão dessa soja podre 
é colhido ao nosso redor pra encher 
o bolso de algum arrombado engravatado

o agro é pop só na puta que pariu
aqui o agro é disfarce 
pra manter apagada a história que tu nunca viu

antes cano de escopeta
hoje cano de fuzil
antes araucária no chão
hoje moto serra abrindo caminho pro fim disso tudo

                        e que venha de uma vez

já foi sangue demais pra fora
hoje se sangra pra dentro até que não se aguente mais
essa roda de mais valia e exploração incessante

tamo tudo derrotado
só que nunca vamos parar de lutar

por quem caiu
por quem viu
por quem resistiu
por quem sangrou
por quem viveu e por quem morreu

                        e também por quem vive agora.

em pé vamos ficar
até todo mundo morrer
ou até esse mundo se tornar um lugar em que seja possível viver de verdade

falam de progresso sem falar no processo, 
no extermínio, em cada retrocesso
em cada alma que partiu em nome do sucesso 
de quem tá no lado errado da história

                    e aqui não vai ter relativização/

malemal vai ter rima

nem compaixão

meus antepassado chegaram aqui atrasado
tudo expulso de antiga terra, sem história de vida pra contar, 
de passado a ser apagado
só o sonho de levar uma vida menos errante, 

                quem sabe mais radiante/       

e só o que chegou até mim 
não sei se por sorte ou maldição
foi a consciência de que nóis foi tudo deixado na mão

sei lá o que veio de lá
não sei bem o que compõe a história do meu sangue
só ouvi falar que algum chão que aqui já se habitou foi aos poucos levado embora

            produto a ser vendido e comprado
                concreto morto lá fora

desde lá de trás, gente do meu sangue já tirava a própria vida por não suportar existir
nesse lugar em que ou se resistia de cabeça baixa ou já se aprontava pra partir

é história de corda no pescoço, de tiro na própria cara, de desgosto,
de abuso de álcool e espancamento de mulher 
que gerou alguém, 
    que criou alguém, 
        que deu à luz alguém, 
            que teve um filho com alguém, 
                que ensinou alguém
                    que cuidou de alguém
                        que virou refém
                            que foi forte, além da própria sorte
                                que foi mãe de pai e mãe meus, 
                                    que, de alguma forma, se tornaram eu.

e aí de repente,
tô aqui

contando a história da violência, da monocultura assassina,
da grilagem, da cobiça maldita
da desumanização da dor e do amor

herdei a cor dos assassino
e herdei a dor do campo de extermínio que essa porra toda foi

de viver vida errante,
de passado não muito distante
que vem me assombrar em cada noite de sono
tentando me convencer de que aqui não é pra eu ficar

eu morro
mas eu morro tentando
fazer disso aqui
um bom lugar

contei uma história comum desse tempo e desse lugar estranhos em que eu nasci
nativo desnaturalizado de terra que invadi 
descompasso constante nessa dor que se manifesta
tipo vento que vem de porta aberta em dia de inverno

inferno.

e lá atrás, bem antes de mim,
sem saber bem de onde vinha,
o que acontecia,
pra onde ia,

chegaram até aqui então
e aí
cheguei até aqui agora

e esse livro eu vou continuar a abrir
escancarar pra parar de errar
libertar todo esse carma maldito

cada vez mais

até todo sangue derramado coagular
pro que tiver que fluir
poder só desaguar num mundo em que seja possível realmente habitar

    viver
        florescer
            resgatar
                   terminar
                                
                            em paz

diferente disso aqui que escrevi.

segunda-feira, 29 de abril de 2024

palavra estranha

esse texto fala mais do que diz o texto antes desse
e de toda vivência que me levou a certos aprendizados
mas depois de dias disso cozinhando dentro de mim
__________________________________

assunto intenso, denso, que me deixa todo cheio de ponto de interrogação

até esqueço de rimar

não me ensinaram direito
até porque isso não se ensina

se vive

aprendizado impiedoso e solitário

necessário

por não saber bem o que isso é
a gente precisa se perder todo
até >talvez< entender
que nossa cultura fez parecer que isso é sinônimo de sofrer, chorar largado, ficar doente, desamparado de si

olha o tanto de palavrinha que já lancei
só pra evitar denominar o que pode ser:

"o ápice do sentir"
"explosão interna"
"sensação de um certo desespero doce..."

só de sentir as palavra
já vai acalmando as ideia e o coração
porque se tem uma coisa que estraga esse flow

é a mente na frente.

chega a ser irônico, sarcástico, ácido, 
como a ruína dessa ideia vem de tentar colocar na mente isso tudo que só coração entende.

mas vamos lá, de uma vez, dizer, que eu vim aqui falar de se apaixonar.

puta termo estranho, irmão
cheio de ramificação

paixão,

o bang é tão insano,
que ao mesmo tempo que o dicionário faloa que é

"sinônimo de suportar, de sofrer, perturbação da natureza, doença"

um outro mano lá da Grécia uma vez falou que é

"o que move, impulsiona a pessoa para a ação".

Pathos que vira Práxis.

mais tarde, uma mina brasileira chamou de:

AMOR NO CÉREBRO.

no fim das contas, concluí que ninguém sabe é de nada, pai

tamo cheio de palpitezinho, quando se pá tudo é muito mais simples, ainda que perigoso, tipo viver.

se apaixonar devia acontecer todo dia ao acordar, abrir a janela e ver o sol a te esperar, brilhando lá do alto, te chamando pra viver forte antes que te abrace a morte.

é viver enquanto se morre
morrer enquanto se vive

se apaixonar eu acho que é tudo isso aí que já falaram e também o que ainda tá guardado, que palavra nenhuma decifra (ainda que a gente tente), que é pra não estragar

é o silêncio de olhar sem falar

deixar sempre a possibilidade de transformar isso aí em outra ideia, pra mente nunca poder usar a racionalidade pra assassinar o que veio te ensinar

até as palavras ficam bagunçadas quando elas tão sentindo paixão

paixão real é paixão pela vida
que também pode se abrigar em outra pessoa, já que toda pessoa é vida também

ninguém se apaixona por bloco de concreto morto, pálido

só o que consegue estragar isso é excesso de trauma, falta de cuidado, mundo escroto de ter sem ser

paixão é ironia
tem nela um tanto de fé

essas duas ninguém controla
tamo há uns milênio tentando decifrar

e se o bang for simplesmente parar de buscar?

aceitar é amor,

ser humano enquadrou amor e paixão e jogou eles na mesma cela

a origem é o coração

um: aceitação
o outro: explosão

um pra te apaziguar
o outro pra te religar

                            quando tu se permitir ou tiver a sorte de um dia sentir 

paixão vem pra relembrar que é bonito viver
que é possível sonhar

que tu se apaixona primeiro por si,
pra depois permitir que o que for pra colar contigo

te transborde, 
te torne tudo que tu pode ser,
que te lembre que tu merece viver

            mas que não te complete, porque tu já nasceu inteiro, porra.
            deixa essa ideia bem evidente pra não ficar tropeçando na mesma pedra em toda volta ao redor de si

só cuida
cuidado
atenção
não se apaixona pelo próprio ego
ele é crucial, mas só como ferramenta
não deixa ele virar condução

e se virar: aprende, sente e entende
a gente vive de repetir isso até as corrente quebrar
e a gente poder se libertar.

pra não viver só de sonho
quem sabe um dia despertar.

as palavras vão se dissolvendo nas mãos
a tinta da caneta acaba, 
mas de um texto pra outro, já nem sei por onde comecei

o final é só uma transição
até a ideia que se emenda com o que já se esparramou no papel,

é tudo meio de caminho
meio de folha meio em branco meio não

mas uma coisa eu sei
se não fosse a paixão
nada disso aqui haveria não. 

domingo, 21 de abril de 2024

te olhar é meio que assim

te olhar é ficar pasmo

é o contrário de pensar

é querer mais

ir te conhecendo

sem nunca te conhecer completamente


te olhar é meio que

vamos

sem saber pra onde

é meio que entender que tem coisa que eu não entendo

perceber que se permitir sentir pode ser bom

suave

tipo olhar dentro do teu olho

te olhar é

vontade

de você

de ir passando linha por linha

sem saber onde vai chegando a próxima ideia


te olhar é como que fluir pro presente

é tipo meditação

na intenção de chegar onde for pra chegar

é não julgar

aceitar

que é o mesmo que amar


perceber que é possível sentir isso tudo e não me perder de mim

é bagunçar

mas uma bagunça boa

quando a gente tá cuidando de si

é tipo dia quente de verão com sombra pra ficar e brisa pra tirar

a bagunça não é de se perder de si

mas de rio que começa a fluir forte depois de um dia de chuva,

bagunça de cozinha depois de janta

de quarto depois da gente

de folha navegando a grama com o vento


se fosse só o olhar

tem também te beijar

te beijar é respirar depois de afundar

falta ar

cheio de clichezinho


besta


baguncinha boa nessa mente que já viveu e já morreu um tanto

pra entender que viver,

como bem canta Gaia Piá

"é tá sempre pronto pra partir"

e isso é tão preciso que assusta

aí a gente olha de novo e vê

que além de ir embora

partir também é chegar

é rompimento, quebra

desfazimento de coisa passada

saber que a vida faz da gente o que ela quer

e aí ela dá querer pra gente lidar também

dá vontade de passar um dia todo com você no sofá

esquecer que tem um mundo lá fora

de viver.


não te quero pra sempre

nem a vida quero pra sempre

te quero enquanto a gente se quiser

e depois sigo andando

não em busca

mas em aceitação

de viver o que a vida é

não o que eu acho que ela devia ser.


o que eu acho vale é pouco

o que eu sinto vale é tudo


te olhar é ficar meio besta assim

é meio que

sentir

sem pesar.

sexta-feira, 29 de março de 2024

entre-lugar

uma história do ser humano brasileiro latinoamericano

século meio 20 meio 21

nascido meio que junto com a internet 

tecnologia de ponta de faca 

de cano de arma apontado pra cara 

sujeito meio branco meio pardo meio preto meio índio meio claro meio escuro meio caminho andado até aqui.

disfarço, busco o que sou eu, leio uns negócio, me sinto perdido, encontrado,

quero alento, vento na cara, árvore pra escalar, ver sorriso na cara de quem eu amo.

cansaço.

neguei a norma gramatical, pau no cu de portugal, europa, metrópole, colonização de bosta, eu falo brasileiro, deixa a gente em paz, agro do caralho, cansei de ver essa merda dá errado, e mal comecei a viver, ainda que já tenha vivido um tanto depois de tanto morrer.

boca suja das mentiras que eu precisei engolir

parte de mim veio de lá, outra parte veio de cá. num sou nem isso nem aquilo, sou apenas o ENTRE-LUGAR.

alimento minha alma do que eu quiser, ainda que esse querer seja confuso,

antropofágico 

produto de propaganda. quero o que me fizeram querer? ou o quê?

pra saber, sei lá. segue lendo, ouvindo, sentindo, observando, ajudando, se questionando, 

e o que sobra de tempo pra existir? resistir? não sumir? 

se manter em movimento, 

ainda que por vezes ele seja só interno

fermentando os próximos capítulos da minha própria novela no canto do meu quarto

sinto uma profunda descrença, paradoxalmente permeada de uma fé absurda: no outro, em mim, nos meus guias, na proteção que vem do lado de lá e do lado de cá.

é muito fácil desesperar. 

se manter são, parça, é parte do processo de resistir e reconquistar.


mas é confuso. nesse mundo cada vez mais obtuso. todo mundo nas suas tela, inclusive eu, e não me leve a mal, sou só um outro mano tentando ver qual é, tentando melhorar ao mesmo tempo que tô buscando me aceitar.

é tenso viver e ao mesmo tempo sonhar, se perguntar: esse sonho é meu? ou é só o que é conveniente pra essa lógica de capital de bosta.

sem rima

veia aberta, escancarada, sangue jorrando, mas coração ainda pulsando

CANSAÇO

que saudade do CANGAÇO que eu nunca vivi.

antes era só pegar as arma, como sabia Maria Bonita e Lampião, e explodir a cabeça de quem te impedia de sorrir. 

agora essa porra tá tudo blindada. 

vai lá, assalta o banco, leva os malote,

dinheiro é só desculpa pra parecer que alguma coisa tem valor.

hoje em dia, tudo se transformou em número na tela de um computador,


quem manda mesmo não se mostra

guilhotina agora é aposta

tem um alvo o tempo todo nas tuas costa

e uma tela o tempo todo na tua cara

o grande irmão agora é uma rede fragmentada

derruba um cai outro no mesmo lugar

descentralizou, espalhou, sistema financeiro que gerou

uma sociedade blindada contra revolução, 

tiraram tudo do teu alcance

nada mais cabe na tua mão

além da tela da tua insatisfação 

sociedade do cansaço, sem tempo nem espaço

correria insana rumo à própria morte em busca de alguma sorte

derrotista? derrotados. 

ao menos nos moldes passados.

é preciso ideia nova

desglobaliza, localiza, olha pro teu lado,

contamina quem puder 

lembra dos ensinamento, mas lembra também do movimento

tudo mudou e é tudo a mesma coisa ao mesmo tempo

batalha de classe insana, modernizada, informatizada, 

trabalhada na arte de moer o espírito de cada irmão

até que ninguém mais queira sair do chão.


fica em pé, porra. tamo aqui pra lutar, sangrar, 

se cuidar pra tá inteiro na hora que precisar.


precisão. paciência. 


agora é só questão de tempo até tudo ruir de novo, 

quanto tempo até a próxima crise? o que vai sobrar pra nois ter que pagar? 


não me leve a mal

num tenho resposta

mas tenho uma metralhadora de ideia que fermenta e me atormenta

em cada noite de sono, em cada despertar nesse mundo de entranha exposta

memória pra conservar esse espírito, essa mente e esse corpo que por aqui passa

sigo fazendo meus corre, indo atrás, buscando aquilo que satisfaz

e isso tem a ver com saber que os irmão tão em paz.

perspicaz é o modo como tudo se transformou numa roda que esmaga a tua carne, tua vontade, teu espírito, tu.


tu

existe. 


apesar de banco, sistema financeiro, globalização, dívida externa, colonização eterna.


num tô falando de mim

mas meio que tô falando sim

a identidade do entre-lugar

pertencer ao despertencimento

nascido em colônia

sugada por metrópole

em tempos tardios de envelhecimento do capital

de crise profunda sem entender é quasa nada, pai,


mas cheio de sangue no olho.


não se identifica nem com aqui nem com lá

nem com lugar nenhum

ao mesmo tempo que se identifica com tudo

pertence a esse todo estranho, intrínseco, cheio de entranha, sangue que flui, cabeça que desanda nos pensamento


cidade entulhada de gente mal encarada

confusa e desesperada

concreto morto, cidade imunda

capital lucrando com seu medo, cada loco cada vez mais vivendo por si, enchendo o nariz de pó, as veia de agulha, tudo pra não passar a corda no pescoço, não colocar o cano na têmpora, se manter aqui, já que nascemos nesse lugar


e quem sou eu pra culpar?


ainda assim

em meio à falta de rumo do sujeito humano

habita o sol, tem ar ainda entrando nos teus pulmão. tem vida ainda saindo pelas tuas mão.

meio singular, meio plural


por baixo de tudo que te fizeram acreditar

tem um ser humano inteiro, cheio de vontade de se expressar.


e isso num vai ser comprado,

num vai ser vendido

vai ser é compartilhado

até geral entender

que ou todo mundo vive

ou vai todo mundo morrer asfixiado.



quinta-feira, 28 de março de 2024

sentir sem pesar

 o que eu sinto

    tem a ver com o que é

não com o que alguém fez parecer que era pra ser


o que eu penso

    tem relação com o que me fizeram achar que eu podia controlar


o que eu vivo

    é uma desengonçada dança entre esses dois


um pêndulo de conflito 

    entre o que é e o que eu acho ser

por meio da mente eu traço meus passos

aí tropeço e desfaço o que não era pra ser


quando eu escrevo

é a mente que me trava

o que não trava é o que sinto 

ele sempre tá ali, ansiando pelo momento

em que a covardia do meu pensar vai dar lugar

ao bonito fluxo desse rio que corre aqui dentro

que sempre soube de tudo que havia pra saber

que tudo é movimento

que nada permanece

que quando a gente esquece de como é ser criança

    a gente morre por dentro

        a vida se torna medo

            o medo se torna dor

e a mente vira protagonista desse jogo que eu não quero jogar

nesse mundo em que às vezes eu não quero viver

produto da consciência humana ainda em estágio primitivo

que dá nome a tudo pra tudo poder controlar

que transforma curiosidade em explicação

teoria vazia que se reflete na parede da caverna


ainda que a porta tenha estado sempre aberta, não saiu ninguém

porque ou sai todo mundo

ou cada um vai continuar vivendo só de imaginação


                        o que tem lá fora?


só de pensar, estragou

veio o medo, atrasou


medo é o contrário de fé

essa ninguém explica

mas todo mundo sabe 

até quem não tem.


e como a gente não sabe explicar

não pode achar que vai controlar


                então melhor evitar.


já ouvi por aí que viver é melhor que sonhar,

será que sentir é melhor que pensar?


sinto pra fora

fluxo constante

penso pra dentro

ansiedade de merda, irrelevante


e aí entendo

que minha vontade é puro sentimento

é o que realmente tenho de eu dentro de mim


por outro lado


vontade feita de pensamento 

é falsa esperança, desatenção, tombo besta em superfície plana, criação mal criada, humano perdido de si.


a mente cria ego frágil

já o coração, parceiro: fluxo constante, relevante, te eleva, não quer palavra, nem explicação, te dá o que precisa, sangue da criação, te torna mar denso, intuição, água profunda, intermediário entre o lado de cá e o lado de lá, te fala o que precisa, intocado, mesmo quando teu pensar tá ali pra te cegar.


se penso, logo existo

então se sinto, logo vivo. 


              

quarta-feira, 27 de março de 2024

uma nova volta ao redor de si

 e o sol nasce de novo

vive seu dia de novo

morre de novo

se transforma de novo


ainda que de novo isso não tenha nada

aguardo pelos sinais

anseio 

não sei mais se sou capaz


entendo que não depende de mim

eu filho da terra 

por vezes desespero


se a gente tá aqui pra amar

que tipo de aprendizado é esse

que jogo é esse que eu preciso aprender a jogar


me sinto amador

viver não é nada preciso

ainda que vivo transpiro dia após dia o que me destrói


se tem uma coisa constante nisso tudo é o amor

é pra ele bastar


escreve apaga escreve apaga

ao menos o fluxo continua

ainda que sem rima

sigo linha após linha meio que sem propósito racional

é só as pontas dos dedos me guiando o caminho


pouco plano agora

isso mudou tanto com o tempo

depois de tanto amor, tanta dor, tanta lágrima, tanto desconhecimento

sinto que cada palavra é um ato mágico dessa busca por despejar no papel

o que me mastiga por dentro


sempre que eu tento acessar o que as coisas um dia já foram

me deparo com o bloqueio gelado aqui dentro

o coração aperta ainda daquele mesmo jeito de dois anos atrás

ainda que agora eu tenha normalizado a ausência 


tô preso ou tô me prendendo a esse ego frágil que devia ser só um intermediário entre eu e tu

eu e o outro

o que eu acho que devia ser

o que eu tentei ser

o que eu não consegui ser


já tive sonhos

até perceber que nenhum deles era meu

ainda vivo esse limbo de tirar da minha frente toda uma vida de ilusão

de querer o que queriam pra mim

o que era conveniente pro jogo


eu

não

quero

jogar


eu não jogo mais esse jogo que assassinou meu irmão

dentro desse quarto de onde ainda escrevo

como que eu saio daqui


sou grato por ter um lugar pra lidar

"o que você ainda tá fazendo aí, Douglas?"

não sei 

tô tentando acessar

aceitar? entender? tô só esperando passar?


sei lá


ainda é tudo estranho por demais

reconheço que há cada vez menos auto piedade

há cada vez mais algo que ainda não sei nomear


que mania estranha essa de querer controlar

descrever

planejar


a ilusão de que é possível sair do lugar

no meio dos meus olhos eu habito

às vezes me esqueço

aí volto a lembrar


quero viver

aceitar

reprogramar esse inferno que aos poucos dá lugar

a alguma coisa nova, misturada com tudo que já fui


ainda falta presente


gratidão pela força, pela paciência e pelo discernimento

peço capacidade de reconhecer que eu floresço

vitória é dia após dia me manter em pé


será que um dia vou entender a razão pela qual eu tô aqui

mas tu não teve como aqui ficar?


isso em vida eu não vou entender jamais

e o trabalho é fazer essa mente cheia de ponto de interrogação deixar isso pra depois

e se guiar pelo que tá ao redor

pra conseguir lidar


esse mundo é coisa muito estranha

às vezes quando eu durmo eu sonho

e só acordo pra me perguntar

tô dormindo aqui?

será que eu vim de outro lugar?


6 da manhã de uma nova volta ao redor de si mesmo 

sábado, 16 de março de 2024

ninguém e o mal

não acho que ninguém seja mal

também não acho que ninguém não seja (:)

um pouco de si, um pouco do outro,

um tanto de sorte, outro tanto de fé,

nóis tá é tudo meio perdido,

meio encontrado, 

no meio do caminho

na encruzilhada

de joelho a gargalhar

te olha de frente: escolhe teu caminho e anda

te encara profundo, olho bem aberto,

de onde tu veio, onde tu tá,

pra onde tu vai, parceiro, aí é contigo 

(um pouco da tua condição, outro pouco da tua vontade, muito do que faz teu sangue pulsar, tuas pernas falarem não, aqui não me deito, sigo caminhando, mesmo em meio aos meus conflito, mesmo sem pensar direito)

ainda que fudido, só te resta mirar, 

pra daí errar, depois acertar, aprender, mas parar de disfarçar:


a dor é inevitável, 

                o sofrimento também.


não se apaixona por ele, não, mas deixa ele te ensinar,

não reprime o que veio pra te guiar

amor pelo teu destino,

amor fatiado por tanta dor

tanto recomeço, 

o bang é olhar pra trás só pra reconhecer que eu nunca esqueço

de onde eu vim, os tiro certo, as merda que fiz, tudo que eu mereço

não porque é meu mérito, mas porque é o que é, independente das lágrima tudo, de todo riso, de tudo que faz esse humano que pronuncia essas palavra gente

mais um

entre tantos

outro, 

sente

amor pelo que te torna tu

ódio pelo que te impossibilita ser

mais um

entre tantos: outro.

outra voz, outra ideia, outro ser, outro coração pulsante, mente cheia

nem sempre do que te agrada

mas sempre do que te rodeia.


Amor é aceitação consciente, nada além: ame!

Ódio é negação

mais nada: odeie!

com consciência


cada um tem seu lugar.

luz e escuridão/

    começo, meio e fim de caminho/

Aprender a amar o tal do amor verdadeiro

num é fácil, irmão.

e ninguém aqui é santo,

vivendo nesse mundo eu me espanto só quando alguém muito apanha e não levanta pra revidar.

nesse mundo de espinho, até a planta aprendeu que só suavidade não basta.

pra existir é preciso sangue no olho, gente como a gente ao redor e um tanto de solidão pra tu num esquecer quem tu é, tuas origem e teu caminhar.

ninguém é mal não, parceiro

mas nem todo mundo merece a tua mão só porque tudo é o que é,

feliz ou infelizmente

no fim a gente descobre.

agora o bang é andar e olhar pra frente. 

  

dor

o azul do céu é ironia em um coração que sentia. a graça da vida que segue se perde diante do que a memória guarda. sou corpo vi...