quinta-feira, 28 de março de 2024

sentir sem pesar

 o que eu sinto

    tem a ver com o que é

não com o que alguém fez parecer que era pra ser


o que eu penso

    tem relação com o que me fizeram achar que eu podia controlar


o que eu vivo

    é uma desengonçada dança entre esses dois


um pêndulo de conflito 

    entre o que é e o que eu acho ser

por meio da mente eu traço meus passos

aí tropeço e desfaço o que não era pra ser


quando eu escrevo

é a mente que me trava

o que não trava é o que sinto 

ele sempre tá ali, ansiando pelo momento

em que a covardia do meu pensar vai dar lugar

ao bonito fluxo desse rio que corre aqui dentro

que sempre soube de tudo que havia pra saber

que tudo é movimento

que nada permanece

que quando a gente esquece de como é ser criança

    a gente morre por dentro

        a vida se torna medo

            o medo se torna dor

e a mente vira protagonista desse jogo que eu não quero jogar

nesse mundo em que às vezes eu não quero viver

produto da consciência humana ainda em estágio primitivo

que dá nome a tudo pra tudo poder controlar

que transforma curiosidade em explicação

teoria vazia que se reflete na parede da caverna


ainda que a porta tenha estado sempre aberta, não saiu ninguém

porque ou sai todo mundo

ou cada um vai continuar vivendo só de imaginação


                        o que tem lá fora?


só de pensar, estragou

veio o medo, atrasou


medo é o contrário de fé

essa ninguém explica

mas todo mundo sabe 

até quem não tem.


e como a gente não sabe explicar

não pode achar que vai controlar


                então melhor evitar.


já ouvi por aí que viver é melhor que sonhar,

será que sentir é melhor que pensar?


sinto pra fora

fluxo constante

penso pra dentro

ansiedade de merda, irrelevante


e aí entendo

que minha vontade é puro sentimento

é o que realmente tenho de eu dentro de mim


por outro lado


vontade feita de pensamento 

é falsa esperança, desatenção, tombo besta em superfície plana, criação mal criada, humano perdido de si.


a mente cria ego frágil

já o coração, parceiro: fluxo constante, relevante, te eleva, não quer palavra, nem explicação, te dá o que precisa, sangue da criação, te torna mar denso, intuição, água profunda, intermediário entre o lado de cá e o lado de lá, te fala o que precisa, intocado, mesmo quando teu pensar tá ali pra te cegar.


se penso, logo existo

então se sinto, logo vivo. 


              

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