e o sol nasce de novo
vive seu dia de novo
morre de novo
se transforma de novo
ainda que de novo isso não tenha nada
aguardo pelos sinais
anseio
não sei mais se sou capaz
entendo que não depende de mim
eu filho da terra
por vezes desespero
se a gente tá aqui pra amar
que tipo de aprendizado é esse
que jogo é esse que eu preciso aprender a jogar
me sinto amador
viver não é nada preciso
ainda que vivo transpiro dia após dia o que me destrói
se tem uma coisa constante nisso tudo é o amor
é pra ele bastar
escreve apaga escreve apaga
ao menos o fluxo continua
ainda que sem rima
sigo linha após linha meio que sem propósito racional
é só as pontas dos dedos me guiando o caminho
pouco plano agora
isso mudou tanto com o tempo
depois de tanto amor, tanta dor, tanta lágrima, tanto desconhecimento
sinto que cada palavra é um ato mágico dessa busca por despejar no papel
o que me mastiga por dentro
sempre que eu tento acessar o que as coisas um dia já foram
me deparo com o bloqueio gelado aqui dentro
o coração aperta ainda daquele mesmo jeito de dois anos atrás
ainda que agora eu tenha normalizado a ausência
tô preso ou tô me prendendo a esse ego frágil que devia ser só um intermediário entre eu e tu
eu e o outro
o que eu acho que devia ser
o que eu tentei ser
o que eu não consegui ser
já tive sonhos
até perceber que nenhum deles era meu
ainda vivo esse limbo de tirar da minha frente toda uma vida de ilusão
de querer o que queriam pra mim
o que era conveniente pro jogo
eu
não
quero
jogar
eu não jogo mais esse jogo que assassinou meu irmão
dentro desse quarto de onde ainda escrevo
como que eu saio daqui
sou grato por ter um lugar pra lidar
"o que você ainda tá fazendo aí, Douglas?"
não sei
tô tentando acessar
aceitar? entender? tô só esperando passar?
sei lá
ainda é tudo estranho por demais
reconheço que há cada vez menos auto piedade
há cada vez mais algo que ainda não sei nomear
que mania estranha essa de querer controlar
descrever
planejar
a ilusão de que é possível sair do lugar
no meio dos meus olhos eu habito
às vezes me esqueço
aí volto a lembrar
quero viver
aceitar
reprogramar esse inferno que aos poucos dá lugar
a alguma coisa nova, misturada com tudo que já fui
ainda falta presente
gratidão pela força, pela paciência e pelo discernimento
peço capacidade de reconhecer que eu floresço
vitória é dia após dia me manter em pé
será que um dia vou entender a razão pela qual eu tô aqui
mas tu não teve como aqui ficar?
isso em vida eu não vou entender jamais
e o trabalho é fazer essa mente cheia de ponto de interrogação deixar isso pra depois
e se guiar pelo que tá ao redor
pra conseguir lidar
esse mundo é coisa muito estranha
às vezes quando eu durmo eu sonho
e só acordo pra me perguntar
tô dormindo aqui?
será que eu vim de outro lugar?
6 da manhã de uma nova volta ao redor de si mesmo
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