quarta-feira, 27 de março de 2024

uma nova volta ao redor de si

 e o sol nasce de novo

vive seu dia de novo

morre de novo

se transforma de novo


ainda que de novo isso não tenha nada

aguardo pelos sinais

anseio 

não sei mais se sou capaz


entendo que não depende de mim

eu filho da terra 

por vezes desespero


se a gente tá aqui pra amar

que tipo de aprendizado é esse

que jogo é esse que eu preciso aprender a jogar


me sinto amador

viver não é nada preciso

ainda que vivo transpiro dia após dia o que me destrói


se tem uma coisa constante nisso tudo é o amor

é pra ele bastar


escreve apaga escreve apaga

ao menos o fluxo continua

ainda que sem rima

sigo linha após linha meio que sem propósito racional

é só as pontas dos dedos me guiando o caminho


pouco plano agora

isso mudou tanto com o tempo

depois de tanto amor, tanta dor, tanta lágrima, tanto desconhecimento

sinto que cada palavra é um ato mágico dessa busca por despejar no papel

o que me mastiga por dentro


sempre que eu tento acessar o que as coisas um dia já foram

me deparo com o bloqueio gelado aqui dentro

o coração aperta ainda daquele mesmo jeito de dois anos atrás

ainda que agora eu tenha normalizado a ausência 


tô preso ou tô me prendendo a esse ego frágil que devia ser só um intermediário entre eu e tu

eu e o outro

o que eu acho que devia ser

o que eu tentei ser

o que eu não consegui ser


já tive sonhos

até perceber que nenhum deles era meu

ainda vivo esse limbo de tirar da minha frente toda uma vida de ilusão

de querer o que queriam pra mim

o que era conveniente pro jogo


eu

não

quero

jogar


eu não jogo mais esse jogo que assassinou meu irmão

dentro desse quarto de onde ainda escrevo

como que eu saio daqui


sou grato por ter um lugar pra lidar

"o que você ainda tá fazendo aí, Douglas?"

não sei 

tô tentando acessar

aceitar? entender? tô só esperando passar?


sei lá


ainda é tudo estranho por demais

reconheço que há cada vez menos auto piedade

há cada vez mais algo que ainda não sei nomear


que mania estranha essa de querer controlar

descrever

planejar


a ilusão de que é possível sair do lugar

no meio dos meus olhos eu habito

às vezes me esqueço

aí volto a lembrar


quero viver

aceitar

reprogramar esse inferno que aos poucos dá lugar

a alguma coisa nova, misturada com tudo que já fui


ainda falta presente


gratidão pela força, pela paciência e pelo discernimento

peço capacidade de reconhecer que eu floresço

vitória é dia após dia me manter em pé


será que um dia vou entender a razão pela qual eu tô aqui

mas tu não teve como aqui ficar?


isso em vida eu não vou entender jamais

e o trabalho é fazer essa mente cheia de ponto de interrogação deixar isso pra depois

e se guiar pelo que tá ao redor

pra conseguir lidar


esse mundo é coisa muito estranha

às vezes quando eu durmo eu sonho

e só acordo pra me perguntar

tô dormindo aqui?

será que eu vim de outro lugar?


6 da manhã de uma nova volta ao redor de si mesmo 

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