sábado, 20 de julho de 2024

se relacionar

se relacionar
até consigo mesmo às vezes é embaçado 
e sem ver direito fica difícil saber pra onde anda

o que atrapalha talvez seja
a ânsia de prever o próximo passo
no caminho de tudo que pode ser

se comigo eu tô suave
me levando pra passear por aí 
deitando na grama depois de chapar
ouvindo um som e pensando na razão de uma coruja sentar no fio de luz em plena tarde de sol

até coruja ficou com saudade do sol

se comigo eu tô suave
(ainda que sempre em meio aos meus próprios processos de dor e desamor de rotina)

me permito meio que involuntariamente me abrir pra além de mim

me vulnerabilizar 

e tudo acontece meio que por conta própria 
(na verdade, nunca dependeu de mim; a mim, cabe só me adaptar e aceitar o fluxo do rio ou atrapalhar tudo colocando a mente na frente)

sou bicho 
demasiadamente cansado

de estragar, de repetir ciclo, de levantar depois de cair

sou gente
demasiadamente descontente 
com a caminhada decadente 
do que me foi ensinado lá atrás 

mas já faz um tempo que parei de tanto lamento
o que a gente podia ter sido? pra onde isso podia ter ido?

a gente eu
e a gente nós 
saca?

é tanto desengano em relação ao amor

e é tudo tão simples:
mas a mente complica o que faz da gente bicho humano gente

a gente evita o cheiro da gente
a gente enfeita o gosto da gente

pra gente parecer outro tipo de gente
achando que tá além do bicho
que ser humano é coisa além do natural

quero cheiro de gente, gosto de transparência densa
não de disfarce.

a pele que habito 
fala por ela 
no toque suave

natural movimento de corpos que se transbordam, de si pro outro, do outro pra si,

no choque do acordar do lado de um rosto recém desperto

a sensação do calor que passa daqui pra lá 
e de lá pra cá 

traz junto o que a gente é e verdade,
bicho gente humano 
que é feito de luta, mas também de carinho de afeto real de acolhimento sincero

nessa mistura confusa 
que tamo há mais de milênio tentando decifrar

essa coisa doida de se relacionar
e que fica ainda mais doida 
quando a gente sente que precisa fazer isso sem protocolo

apenas pelo que isso pode ser
tipo de se entender em outro ser
dar um pouco de si
pegar um pouco do outro
se tornar um sem nunca deixar de ser dois e sem nunca deixar de ser parte do todo social bonito que faz da gente gente

nada te completa
por que tu nasceu inteiro
vai viver
desejar
se permitir fazer o que sentir
e não deixa que ninguém te feche os caminhos não
abre abre caminho
deixa passar o que hoje eu sinto 
deixa eu escolher pra onde andar

vou por aí 
ver qual é 
fico por aqui
sem saber

sigo a linha
e peço licença pra de ver em quando
terminar em paz.

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