domingo, 5 de outubro de 2025

dor

o azul do céu é ironia em um coração que sentia. a graça da vida que segue se perde diante do que a memória guarda. sou corpo vivo. cadáver adiado. espírito medicado. anestesia que permite vaga ideia do que já significou amar e viver. [hoje] ainda piso descalço nos restos de alguém que já fui, derramados entre a cozinha, a sala e o quarto, no mesmo lugar em que você se foi. pés sangram por descuido. sou [saudade)))]. ela já não é parte de mim. ela sou [(((eu]. antes dela achava que sabia. depois dela até o brilho do sol é incerto. [purgatório]. quem morreu fui eu. quem segue é o espírito que sou antes de ser [eu]. à espera do retorno ao que nunca vou deixar de ser. [morte] a própria sorte é saber: um dia vou deixar de ser. o bom. o ruim. a memória. o esquecimento. o azul do céu. a ironia. a cor do sol. impermanência. por enquanto. por aqui sigo. penso. diante disso tudo me ligo. [irmão] quase quatro anos inteiros. como você tá? o que eu posso fazer pra ajudar? o desespero tranquilo de perceber que o mundo nunca vai deixar de ser belo, com ou sem eu e você. 

sexta-feira, 27 de junho de 2025

de hoje

falo contigo sem ter muito o que falar

minha vida faz isso

silencia pra reorganizar

ainda que no meio do caminho tudo vire uma bagunça

toda vez

faz, faz, faz, 

satisfaz

alguma coisa que você não sabe bem explicar

por que passo tanto tempo sem escrever

porque se escrevo me descrevo como quem imagino ser

e de imaginação eu tô farto

vamos reformular isso tudo

imagina de novo

pode ser mesmo isolado dentro do quarto

só toma cuidado

só tu e tuas sombra conversando lado a lado

sem tudo ouvir nada

mas interligar tudo

com cada ação

ou inação

nesse mundo de competição

só muito amador ainda na arte da cooperação

encarando a tela e buscando distrações

preso na matéria que me encarcera até o dia em que vou colher o resultado de todas as minhas ações

ou inações

a saudade que eu sinto é de pensar e sentir um pouco mais linear

saber da causa ver o resultado do que é feito ou não feito e concluir

desde que aconteceu aquilo lá

a mente explodiu, se destruiu, morri junto com uma das pessoas que mais amava

e tive que refazer tudo que eu achava que eu era

saudade?

de não sentir a sensação de que tá faltando um

o zum zum zum da mente em cada lugar em que me pega de surpresa

tô ali olhando pro céu

de repente

olho pro lado

e...

tu podia tá ali

mas tu mostrou e não só pra mim voltando pra avisar que foi pra algum lugar

e aí eu fui atrás de ver qual é 

espírito, espiritual

eu tinha deixado de botar fé

que além daqui 

tinha outra rima acontecendo

talvez tudo ao mesmo tempo

misturado aqui

se separando com as limitação da percepção

olha ele

preso no passado

ou só analisando cada fato

pra poder saber quem sou

o que tô aqui pra fazer

será que falta planejar?

será que é só parar de se perguntar

e ser

ou será que é igual os meus texto

uma mistura meio desorganizada

ainda que alinhada,

da minha alma do meu corpo e da minha mente  

que tô sempre precisando cuidar

pra não entrar na frente 

atrapalhar

trabalha comigo 

e não contra mim

pode ser?

fala isso pra si mesmo 

mas já esperou pelo fim

que nunca chega

e nunca vai chegar

meu irmão me mostrou que a gente é eterno

voltou em dois lugar ao mesmo tempo falar

sem dizer nada

"salve! fui por aí."

nem pra complementar

bem a tua cara

deixar nóis tudo curioso

querendo saber

pra onde vamo

depois de tudo isso acabar

mas tudo bem

mandou bem

entendi que é só seguir, de alguma forma

e por alguma razão, se pá, tamo aqui pra ficar

não só do lado de cá

mas agora tamo aqui e que bonito aprender cada vez que ouço alguém falar

do que é ser o que se é

de passar pelo monte de perrengue que é ser brasileiro em 2025

e não só agora

memória

história

vamo tentar só aos poucos ir parando de errar


sábado, 15 de fevereiro de 2025

descoloniza a língua

descoloniza a língua
fala o que tu é de verdade
sem se preocupar com forma e disfarce

arte não precisa ser arrumadinha como eles querem não

arte é cultura crua
cultura é tudo
o pão que tu come de manhã, o bom dia que tu dá, o bom dia que tu não dá, até teu jeito de caminhar. 
cada movimento
escolha e consequência 
de cada ser humano
político
querendo ou não
ou melhor...
sabendo ou não.

viver é perigoso
educar é mais ainda

já que pode te libertar e te tornar consciente
ou te aprisionar mais fundo fazendo tu achar que ninguém tem valor
além do valor de mercado
que só consumir é que faz sentido numa vida sem gosto de vida.

o que tu ganha é o que tu é.
o que tu tem é o que te faz gente
nesse mundo de aparência besta.

(o sal vem do mar 
dona Janaína
mãe d'água 
deixa eu começar mais uma vez)

arte é tudo que tu é aí dentro
vivo ela instável
de temperamento nem sempre agradável
abandono ela quando me abandono
em geral sem perceber direito o que tá acontecendo

escrevia, daí já não escrevia mais.
ainda que de pausa em pausa ela sempre volte.
e sempre mais forte.

tô aprendendo a respeitar o ciclo inconstante que vivo

uma hora tô ali fluindo fazendo
aí de repente esqueci como faz

tipo adormecer despreparado
acordar no susto atordoado e atrasado
pro trabalho que mal sustenta
a alma, o espírito, a vontade
sabendo que tem tanto que é de veerdade a ser feito

tem toda uma matriz de linguagem
te prendendo os neurônios em cada preposição
em cada autocorreção
em cada crítica que tu faz de cada palavra que sai da tua boca e da boca dos teus irmão

ouve bem:
nóis fala do jeito que nóis quiser
e num é bem por querer não...

é só por ter nascido num lugar qualquer
que vale tanto quanto qualquer outro lugar que fale de tantos outro jeito

ao mesmo tempo importante e desimportante
nem maior nem menor do que nada

é só diferente
e isso é tão simples
falar difícil pra convencer quem de que se é o que num se é?

começa na língua o processo da tua dominação
e se perpetua na prática social

"nóis" é só a gente mudando o jeito que a gente fala.
pra ficar mais bem falado, saca?

um dia "vossa mercê" virou "você" que virou "cê".
um dia esse mesmo "você" foi motivo de graça pra quem só queria a tua desgraça. 
minha vó tomava café com "açucre", e que saudades.
enriqueçamos a língua. sejamos neologistas de si mesmos. criadores do próprio universo de fala e dos próprios caminhos.

a regra que tu, 45, fale como 11 ou como 21
igual na tua metrópole local
porque a metrópole real tá a um oceano de distância
e dividiram nóis entre eles
como se nóis nada fosse

______________________________________

como se por falar nóis,
nóis fosse qualquer coisa menos que nóis
e nóis manda bem demais se nóis quiser.

cansou de nóis?
desfaz eles então
nó vira laço 
que vira corda 
que vibra vida.

e lembra que, na real, são linhas tortas escrevem certo por Deus.

falo e falo, mas sou também só uma circunstância do que fiz pela vida.
estudei que a língua brasileira se chamava língua portuguesa.
estudei que um dos principais pontos que une uma nação é a unidade linguística
percebi mais tarde que essa é uma das maiores ilusões em que eu já botei fé.

"botar fé". bote mesmo. coloque. ponha a fé onde quiser.

a unidade é local, não global.
somos um planeta de gente e de língua. 
que é viva e nunca se pretendeu bonita.
quem faz a beleza de falar é quem fala,
não quem escreve a "Moderna Gramática Portuguesa".

pros infernos com essa dominação sutil.
meu discurso, nem sempre sutil, mas sempre orientado
por aqueles que entenderam a simplicidade do falar
grande Freire, Ribeiro, de rio de água de palavra que conecta.

que haja conexão.
a única razão da palavra existir é conectar.
religare.

quem sabe não estamos aqui apenas pra mudar as palavras tanto a ponto de um dia não precisarmos mais delas. conecta, conecta e conecta até que não seja mais possível desconectar.

pega cada palavra configurada pelos detentores dos teus grilhões
das corrente que te prendem no chão
e fala elas como tu quiser
porque esse negócio de se aceitar começa pelo que te liga aos teus irmão: comunicação.

tuas palavras não existem pra te fazer falar bonito
elas existem pra te fazer se conectar

e, sinceramente, no momento eu tô meio perdido das palavras.

o que sou
não sou
vou ser
o que fui,

de que problema sou meu próprio criador?
de que problema sou refém?

paradoxo.
entre-lugar.

ansiedade que me corrói 
quando percebo que, pra realidade
cada palavra é um degrau
pra ascensão social.

no mesmo mundo em que tanto se fala em aceitação
a práxis me diz que a gente é tudo refém
de propaganda em vídeo curto em rede social
de precisar de moeda de troca pra conseguir existir
pra ser o humano que querem que tu seja.

ascensão real é abraçar, aceitar e respeitar 
tuas próprias palavras,
que vem dos teus próprios pensamentos
que tu nem sabe se são teus.

o cérebro é um mar de cor e som
o que tu vê e o que tu ouve
te transformam na tua condição.

de repente eu me calei
quando percebi que nos últimos tempos eu cedi
pra minha própria mente
pra tudo que eu escrevo que não deveria fazer

"no começo era o verbo"
cheguei aqui sem saber bem o que ia falar
aí fui dizendo
se pensei, falhei
se falei, exitei.

mas não aquele hesitar de parar, travar, não saber por onde ir.
tô falando de hesito, de conseguir, quando nem precisava falar.

ah, a língua brasileira é linda
ela canta, dança e inventa o que quiser.
pega verbo, substantivo e adjetivo e faz da língua samba.

hesitar e exitar são a mesma coisa e ao mesmo tempo um não tem nada que ver com o outro.
se eu hesito, eu travo.
mas se houver êxito, eu consigo.

veja bem:
"mê vê" um pouco de paciência.
"caiu a ficha" quando eu percebi
que "cada macaco no seu galho" 
é a pragmática em ação.
e se "na casa do ferreiro o espeto é de pau".
é porque o ferreiro tá ocupado demais fazendo o espeto encomendado.

não vou citar autor não
porque você precisa tomar a autoria nas suas próprias mãos.
ainda que o mundo te frustre.
ainda que pareça que o que tu faz não significa nada.

ainda que a teoria e a práxis residam a mares de distância.
ainda que eu, enquanto professor, me ache uma farsa enorme.
ainda que o desespero bata na minha porta em tantas manhãs
acordadas sentindo que a escola é uma manutenção do trabalho e não do ser humano.

é muito estranho ser professor, estudar e cansar de tanto citar autor e fazer referência ao que não fala daqui.

preciso de palavras reais. a conexão real vem com o que tu diz, que, ainda que seja delimitado pelo que tu já ouviu ou leu. não quero saber de pretensão. quero saber da humildade de fazer das próprias palavras ponte, pra chegar de uma pessoa até outra pessoa.

"pega a visão": "se é macumba não chuta não".
laroyê, meu protetor.
"respeito é pra quem tem".

e eu nem sei se tenho,
respeito pelos outros é mais fácil
do que respeito por si
por eu mesmo que volta e meia recaio
em questionar tudo que me faz eu.
em me sentir inválido 
mesmo sabendo que invalidado eu fui por mim e pelo que me formou.

que coisa doida viver esse paradoxo de se reconhecer enquanto vontade de existir e ao mesmo tempo enquanto ser hesitante, desses que param e não seguem adiante. 

apesar de tudo isso: o movimento não para. quem para de vez em quando são as palavras que fluem por meio de mim.

não sei se essas travas são por causa do passado que vivi 
ou porque vivo de um presente isolado
tentando disfarçar o que vim aqui de verdade pra falar
com palavrinha bonita que não serve nem pra enfeitar o altar,
onde agradeço e peço, 
por um mundo melhor, 
    por dias de paz, 
        e também por conseguir lutar até entender, até aceitar, que é preciso confiar 
                                                        e não ter medo.

porque medo, esse é o contrário de fé.
e não há meia fé.

ou há fé
ou há medo

essas duas não se confundem em encruzilhada nenhuma.

"quem tem fé tem tudo, quem não tem fé não tem nada."

e eu, mesmo com a minha fé, de repente acordo num dia qualquer e concluo que nada tenho, que não sou, que nada valho.

atormentado pelas mesmas palavras que eu tanto estimo.
silenciado por eu mesmo em cada troca.
convencido, caído, mas pra logo me levantar.

"pra boa palavra, meio entendedor basta".
então diz o que precisa, e fala o que puder.

....................

VERSÃO SLAM

descoloniza a língua
fala o que tu é de verdade
sem se preocupar com forma e disfarce

arte não precisa ser arrumadinha como eles querem não

arte é cultura crua
cultura é tudo
o pão que tu come de manhã, o bom dia que tu dá, o bom dia que tu não dá, até teu jeito de caminhar. 
cada movimento
escolha e consequência 
de cada ser humano
político
querendo ou não
ou melhor...
sabendo ou não.

viver é perigoso
e educar é mais ainda

já que pode te libertar e te tornar consciente
ou te aprisionar mais fundo fazendo tu achar que ninguém tem valor
além do valor de mercado
que só consumir é que faz sentido numa vida sem gosto de vida.

arte é tudo que tu é aí dentro
vivo ela instável
de temperamento nem sempre agradável
abandono ela quando me abandono
em geral sem perceber direito o que tá acontecendo

escrevia, daí já não escrevia mais.
ainda que de pausa em pausa ela sempre volte.
e sempre mais forte.

tô aprendendo a respeitar o ciclo inconstante que vivo

uma hora tô ali fluindo, fazendo
aí de repente esqueci como faz

tipo adormecer despreparado
acordar no susto atordoado e atrasado
pro trabalho que mal sustenta
a alma, o espírito, a vontade
sabendo que tem tanto que é de verdade a ser feito

tem toda uma matriz de linguagem
te prendendo os neurônios em cada preposição
em cada autocorreção
em cada crítica que tu faz de cada palavra que sai da tua boca e da boca dos teus irmão

ouve bem:
nóis fala do jeito que nóis quiser
e num é bem por querer não...

é só por ter nascido num lugar qualquer
que vale tanto quanto qualquer outro lugar que fale de tantos outro jeito

ao mesmo tempo importante e desimportante
nem maior nem menor do que nada

é só diferente
e isso é tão simples
falar difícil pra convencer quem de que se é o que num se é?

começa na língua o processo da tua dominação
e se perpetua na prática social

"nóis" é só a gente mudando o jeito que a gente fala.
pra ficar mais bem falado, saca?

um dia "vossa mercê" virou "você" que virou "cê".
um dia esse mesmo e "correto" "você" foi motivo de graça pra quem só queria a tua desgraça. 
minha vó tomava café com "açucre", e que saudades.
enriqueçamos a língua. sejamos neologistas de si mesmos. criadores do próprio universo de fala e dos próprios caminhos.

a regra é que tu, 45, fale como 11 ou como 21
igual na tua metrópole local
porque a metrópole real tá a um oceano de distância
e dividiram nóis entre eles
como se nóis nada fosse

"no começo era o verbo"
cheguei aqui sem saber bem o que ia falar
aí fui dizendo

a língua brasileira é linda
ela canta, dança e inventa o que quiser.
pega verbo, substantivo e adjetivo e faz da língua samba.

veja bem:
"mê vê" um pouco de paciência.
"caiu a ficha" quando eu percebi
que "cada macaco no seu galho" 
ainda precisa da árvore em pé
e se "na casa do ferreiro o espeto é de pau".
é porque o ferreiro tá ocupado demais fazendo o espeto encomendado.

é não esquece que
se pá,
são as linhas tortas que escrevem por Deus.


 

quarta-feira, 24 de julho de 2024

a vida e as brisa da vida

a vida e as brisa da vida
sem pretensão de falar bonito
só falar sincero
ao menos assim eu espero
já que nem sempre
a mente tá sagaz
de vez em quando rasteira
pra tu não esquecer
que aqui nesse planeta
ainda tem muito que se aprender

a vida e as brisa da vida
dia de sol me levei pra passear
fumei brisei 

a vida e as brisa da vida
um abismo no meio do caminho
anda e salta ou cai
essa é a única escolha
desce rápido
no chão atortoado
levanta o rosto marcado
pela maldição no meio do caminho
se arrasta ou espera um pouco essa porra passar
é solitário no fundo do abismo
nada é familiar
é tudo recomeço
levanta anda tropeça 
cuidado com teus passo
refaz cada pensamento que 
entrou na frente de cada sentimento
de sempre ter sabido o que fazer
e ainda assim não ser
nada além das escolhas que eu fiz
condicionado pelo que absorvo
ainda assim ser não de livre arbítrio pra escolher o que vai acontecer
mas de libre arbítrio de levantar e continuar a caminha

e anda
anda
sem saber ainda direito o que tá acontecendo
será que um dia soube
eu sei lá
eu sei lá

a vida e as brisa da vida
coisa boa esse negócio de jogar no papel
o que a vida vai sendo
sem pretensão de viver bonito
mas de viver sincero
assim espero

a vida e as brisa da vida
tudo contida
num mesmo dia
da tristeza de certas lembrança
à coruja no fio de luz olhando pro sol
da confusão de uma noite de sonho estranho
à leveza de uma praça num dia de sol
que bonito esse mundo escroto
que desastre não viver a vida
não que eu viva

(cicatriz) 

sábado, 20 de julho de 2024

se relacionar

se relacionar
até consigo mesmo às vezes é embaçado 
e sem ver direito fica difícil saber pra onde anda

o que atrapalha talvez seja
a ânsia de prever o próximo passo
no caminho de tudo que pode ser

se comigo eu tô suave
me levando pra passear por aí 
deitando na grama depois de chapar
ouvindo um som e pensando na razão de uma coruja sentar no fio de luz em plena tarde de sol

até coruja ficou com saudade do sol

se comigo eu tô suave
(ainda que sempre em meio aos meus próprios processos de dor e desamor de rotina)

me permito meio que involuntariamente me abrir pra além de mim

me vulnerabilizar 

e tudo acontece meio que por conta própria 
(na verdade, nunca dependeu de mim; a mim, cabe só me adaptar e aceitar o fluxo do rio ou atrapalhar tudo colocando a mente na frente)

sou bicho 
demasiadamente cansado

de estragar, de repetir ciclo, de levantar depois de cair

sou gente
demasiadamente descontente 
com a caminhada decadente 
do que me foi ensinado lá atrás 

mas já faz um tempo que parei de tanto lamento
o que a gente podia ter sido? pra onde isso podia ter ido?

a gente eu
e a gente nós 
saca?

é tanto desengano em relação ao amor

e é tudo tão simples:
mas a mente complica o que faz da gente bicho humano gente

a gente evita o cheiro da gente
a gente enfeita o gosto da gente

pra gente parecer outro tipo de gente
achando que tá além do bicho
que ser humano é coisa além do natural

quero cheiro de gente, gosto de transparência densa
não de disfarce.

a pele que habito 
fala por ela 
no toque suave

natural movimento de corpos que se transbordam, de si pro outro, do outro pra si,

no choque do acordar do lado de um rosto recém desperto

a sensação do calor que passa daqui pra lá 
e de lá pra cá 

traz junto o que a gente é e verdade,
bicho gente humano 
que é feito de luta, mas também de carinho de afeto real de acolhimento sincero

nessa mistura confusa 
que tamo há mais de milênio tentando decifrar

essa coisa doida de se relacionar
e que fica ainda mais doida 
quando a gente sente que precisa fazer isso sem protocolo

apenas pelo que isso pode ser
tipo de se entender em outro ser
dar um pouco de si
pegar um pouco do outro
se tornar um sem nunca deixar de ser dois e sem nunca deixar de ser parte do todo social bonito que faz da gente gente

nada te completa
por que tu nasceu inteiro
vai viver
desejar
se permitir fazer o que sentir
e não deixa que ninguém te feche os caminhos não
abre abre caminho
deixa passar o que hoje eu sinto 
deixa eu escolher pra onde andar

vou por aí 
ver qual é 
fico por aqui
sem saber

sigo a linha
e peço licença pra de ver em quando
terminar em paz.

sexta-feira, 19 de julho de 2024

Dois anos e meio mais tarde

seguindo adiante
andando às vezes bem devagar

tá tudo tão diferente
(tudo esclarecido 
nada resolvido)

nada menos confuso
a vida se tornou até que bonita em meio àquele caos
esse bolo não tinha receita
e hoje eu receio pouco
(minto?)
ando mais no improviso
e escrevo pra não esquecer
dos erro que eu vou fazer de tudo 
pra nunca mais cometer

espero saber falar e silenciar quando precisar
"tô aqui pra tu"
"tá foda mesmo, mas se nois tá junto nois samba na cara do persegue

(pra onde é que tu foi, parceiro?)

escrever isso aqui é parte da intenção 
de haver mais honestidade da minha parte com as coisas que sinto

"vai passar, irmão" queria ter te falado

a caneta hesita, o traço fica lento
porque já falei, pensei, senti, decidi
tanto nos últimos 2 anos e meio

já entendi que eu te deixei ir
porque aqui tu foi o Nick
aí tu é além Nick
que brisa doida de pensar

um dos mano mais firmeza que eu podia encontrar
a gente percebeu o sentido dessa porra toda juntos

olha, que doido, onde isso aqui chegou
sem eu nem saber, primeiro bateu aquela tristeza do que tudo já foi

aí veio a caneta, o som, a ganja, a Sky pedindo um carinho

e alguma coisa aqui por perto de guiou à lembrança 
de que tu pode não tá aqui mais fisicamente

mas a gente 
VIVEU
coisa pra caralho

cada rolê doido
cada ideia trocada sobre tudo

o que é ser, num ser, num sei, vamo toma uma bera, vamo dançar música doida no meio do mato, trombar outras maninha e outros maninho firmeza no meio do caminho pra compartilhar isso aqui tudo junto

... isso enquanto a encruzilhada não chegar
meramente pra cumprir o que sempre foi evidente

AH, deixa o fim pra lá, porra

SIM

lembra de quando, no meio de um rolê 

lisérgico

em festa doida com gente estranha que nem se flagrava
mas tava ali
celebrando a vida junto e tirando uma brisa doida no meio do caminho
só porque sim

uma hora a gente se olhou, meu mano
e até hoje nem lembro se eu falei pra tu ou se tu falou pra mim:
    
        "A gente veio do mesmo lugar!"

a mente na hora explodiu do mesmo jeito que a tua
e eu sabia disso só de olhar teu olho brilhando vida 
brilhando a curiosidade boa de se perceber

e é disso que eu vou lembrar:

A GENTE VEIO DO MESMO LUGAR!

a gente veio
do mesmo lugar

a gente VEIO
          do mesmo lugar...

respiramos o mesmo ar,
coexistindo ao mesmo tempo
da mesma mãe 
na mesma terra
mesma substância 
matéria 
contexto
andando no mesmo solo
acertando 
e repetindo certos tropeço 

Desconheço 
qualquer coisa que vai fazer a vida valer tanto quando perceber, com você, irmão

que a vida é pra todo mundo viver

tenho só a agradecer
sem esquecer do que faz essa porra toda bonita:

a gente veio do mesmo lugar

e olha que trem doido esse negócio de escrever

de título premeditado pra um texto que achei que ia ser sobre mágoa 

mas que termina, 
como um afago.

hoje me levei

hoje me levei pra passear
tipo bicho mesmo
ver o sol pegar vento na cara
brincar de existir comigo mesmo
eu e a bike
fuma um antes de sair
se perde no som
por que eu gosto tanto de Lana Del Rei?
falei chapei
dancei um pouco na sala
fiz um carinho nos bicho
sky gato noia e miau
amo tanto ocês
me perdi nas ideia
atrasei o rolê
achei que ia sair cedo
hoje o sol saiu cedo
e eu saí em meio de tarde
em meio a uma mente tranquila depoisde um fino
por aí
ficar sozinho
ainda que sempre bem guiado
desenrolar minhas próprias ideia
entender de dentro um pouco mais do que acontecendo
quanta coisa irmão!!!!
agora tá mais tranquilo ficar dentro da minha cabeça
aprendi umas coisa nesses últimos tempos
doeu bastante
hoje ainda dói
mas eu tô aprendendo a caminhar
sabendo que nunca o que foi vai voltar a ser
e que é de agora que tudo se faz
que eu sou tão importante quanto desimportante nesse espaço nesse tempo nesse contexto meio desgraçado mas ainda assim agraciado com todo o amor que tem acontecido ao redor
esse amor que me lembra que eu também preciso lembrar de amar o que eu sou
aceitar conscientemente um rolê tranquilo suave no sol ouvindo som

sangue latino correndo na veia
que nem meu cachorro meio pistola meio tranquila
um bom lugar se faz com boa gente
mesmo que andasse no vale das sombras nada temerei
vou por aí preciso me encontrar
rir pra não chorar
sabe?
pau pedra no meio do caminho tem
e também tem hora de parar e ficar olhando o céu fumar mais fazer vídeo besta
pra vibrar cada canto dominante no seu coração
eu choro para lhe lavar Odoya!
e canto para lhe dizer
que eu gosto tanto do mar
sinto saudades de sentar na areia fumar um negocin e ficar ouvindo as onda quebrar e vendo a espuma da onda azul esse azul é tão grande
meu caminho é tão longo e eu sou tão pequeno
e ao mesmo tempo sou filho de Ogum
levo no peito a marca do guerreiro
rasgada a lâmina crua
sange coagulado não carrega vida
sai sai de dentro de mim o que aqui não pode ficar
eu sei que pó eu sei que mata
somos mistura
somos doçura
somos beleza
somos candura
somos a festa
somos a cura
somos a mágoa dessa estrutura

São Jorge venha me proteger
do que eu não consigo ver
dos movimentos em que eu hesito
dos momentos em que parecer que a luz foi pra outro lugar

entendi que eu preciso caminhar
hoje vou pedalar até querer pra casa voltar
parei por aqui
olha esse sol
e a lua cheia ao mesmo tempo no céu 
dia abençoado 
sendo guiado pelo sol e pela lua lado a lado

nossa
brisei
nossa
que que aconteceu aqui
vish
tava ali daí veio as palavra tudo

obrigado por me ajudarem a ser, palavras
a desdobrar o que precisar fluir
a resgatar o que eu não posso esquecer

eu só sei que gostei
dia comigo me fazendo bem
protegido e guiado
por quem não vejo mas sinto
e por quem tá aqui e anda no vale das sombras junto com a gente quando ele chega
por ele chega

é dia de sol
dia de lua
tudo ao mesmo tempo no céu

tudo meio incrível e meio horrível tudo meio que ao mesmo tempo

jurei mentiras e sigo sozinho
assumo os pecados
os ventos do norte não movem moinhos
e o que me resta é finalizar tranquilo

na incerteza de ser o que sou por aí
de alma cativa
sangue latino
e veia pulsante

pulsa
pulso
pulsa
pulsa firme que a vida é mar denso
água profunda

brasileiro de Brasil caído mas jamais vencido
deixa o amor terminar

ame!
a si ao outro ao que te possibilita ser
desse jeitinho aí que tu é
tu é tudo
e nada nesse mar que ele tem várias história bonita pra contar


dor

o azul do céu é ironia em um coração que sentia. a graça da vida que segue se perde diante do que a memória guarda. sou corpo vi...