sexta-feira, 29 de março de 2024

entre-lugar

uma história do ser humano brasileiro latinoamericano

século meio 20 meio 21

nascido meio que junto com a internet 

tecnologia de ponta de faca 

de cano de arma apontado pra cara 

sujeito meio branco meio pardo meio preto meio índio meio claro meio escuro meio caminho andado até aqui.

disfarço, busco o que sou eu, leio uns negócio, me sinto perdido, encontrado,

quero alento, vento na cara, árvore pra escalar, ver sorriso na cara de quem eu amo.

cansaço.

neguei a norma gramatical, pau no cu de portugal, europa, metrópole, colonização de bosta, eu falo brasileiro, deixa a gente em paz, agro do caralho, cansei de ver essa merda dá errado, e mal comecei a viver, ainda que já tenha vivido um tanto depois de tanto morrer.

boca suja das mentiras que eu precisei engolir

parte de mim veio de lá, outra parte veio de cá. num sou nem isso nem aquilo, sou apenas o ENTRE-LUGAR.

alimento minha alma do que eu quiser, ainda que esse querer seja confuso,

antropofágico 

produto de propaganda. quero o que me fizeram querer? ou o quê?

pra saber, sei lá. segue lendo, ouvindo, sentindo, observando, ajudando, se questionando, 

e o que sobra de tempo pra existir? resistir? não sumir? 

se manter em movimento, 

ainda que por vezes ele seja só interno

fermentando os próximos capítulos da minha própria novela no canto do meu quarto

sinto uma profunda descrença, paradoxalmente permeada de uma fé absurda: no outro, em mim, nos meus guias, na proteção que vem do lado de lá e do lado de cá.

é muito fácil desesperar. 

se manter são, parça, é parte do processo de resistir e reconquistar.


mas é confuso. nesse mundo cada vez mais obtuso. todo mundo nas suas tela, inclusive eu, e não me leve a mal, sou só um outro mano tentando ver qual é, tentando melhorar ao mesmo tempo que tô buscando me aceitar.

é tenso viver e ao mesmo tempo sonhar, se perguntar: esse sonho é meu? ou é só o que é conveniente pra essa lógica de capital de bosta.

sem rima

veia aberta, escancarada, sangue jorrando, mas coração ainda pulsando

CANSAÇO

que saudade do CANGAÇO que eu nunca vivi.

antes era só pegar as arma, como sabia Maria Bonita e Lampião, e explodir a cabeça de quem te impedia de sorrir. 

agora essa porra tá tudo blindada. 

vai lá, assalta o banco, leva os malote,

dinheiro é só desculpa pra parecer que alguma coisa tem valor.

hoje em dia, tudo se transformou em número na tela de um computador,


quem manda mesmo não se mostra

guilhotina agora é aposta

tem um alvo o tempo todo nas tuas costa

e uma tela o tempo todo na tua cara

o grande irmão agora é uma rede fragmentada

derruba um cai outro no mesmo lugar

descentralizou, espalhou, sistema financeiro que gerou

uma sociedade blindada contra revolução, 

tiraram tudo do teu alcance

nada mais cabe na tua mão

além da tela da tua insatisfação 

sociedade do cansaço, sem tempo nem espaço

correria insana rumo à própria morte em busca de alguma sorte

derrotista? derrotados. 

ao menos nos moldes passados.

é preciso ideia nova

desglobaliza, localiza, olha pro teu lado,

contamina quem puder 

lembra dos ensinamento, mas lembra também do movimento

tudo mudou e é tudo a mesma coisa ao mesmo tempo

batalha de classe insana, modernizada, informatizada, 

trabalhada na arte de moer o espírito de cada irmão

até que ninguém mais queira sair do chão.


fica em pé, porra. tamo aqui pra lutar, sangrar, 

se cuidar pra tá inteiro na hora que precisar.


precisão. paciência. 


agora é só questão de tempo até tudo ruir de novo, 

quanto tempo até a próxima crise? o que vai sobrar pra nois ter que pagar? 


não me leve a mal

num tenho resposta

mas tenho uma metralhadora de ideia que fermenta e me atormenta

em cada noite de sono, em cada despertar nesse mundo de entranha exposta

memória pra conservar esse espírito, essa mente e esse corpo que por aqui passa

sigo fazendo meus corre, indo atrás, buscando aquilo que satisfaz

e isso tem a ver com saber que os irmão tão em paz.

perspicaz é o modo como tudo se transformou numa roda que esmaga a tua carne, tua vontade, teu espírito, tu.


tu

existe. 


apesar de banco, sistema financeiro, globalização, dívida externa, colonização eterna.


num tô falando de mim

mas meio que tô falando sim

a identidade do entre-lugar

pertencer ao despertencimento

nascido em colônia

sugada por metrópole

em tempos tardios de envelhecimento do capital

de crise profunda sem entender é quasa nada, pai,


mas cheio de sangue no olho.


não se identifica nem com aqui nem com lá

nem com lugar nenhum

ao mesmo tempo que se identifica com tudo

pertence a esse todo estranho, intrínseco, cheio de entranha, sangue que flui, cabeça que desanda nos pensamento


cidade entulhada de gente mal encarada

confusa e desesperada

concreto morto, cidade imunda

capital lucrando com seu medo, cada loco cada vez mais vivendo por si, enchendo o nariz de pó, as veia de agulha, tudo pra não passar a corda no pescoço, não colocar o cano na têmpora, se manter aqui, já que nascemos nesse lugar


e quem sou eu pra culpar?


ainda assim

em meio à falta de rumo do sujeito humano

habita o sol, tem ar ainda entrando nos teus pulmão. tem vida ainda saindo pelas tuas mão.

meio singular, meio plural


por baixo de tudo que te fizeram acreditar

tem um ser humano inteiro, cheio de vontade de se expressar.


e isso num vai ser comprado,

num vai ser vendido

vai ser é compartilhado

até geral entender

que ou todo mundo vive

ou vai todo mundo morrer asfixiado.



quinta-feira, 28 de março de 2024

sentir sem pesar

 o que eu sinto

    tem a ver com o que é

não com o que alguém fez parecer que era pra ser


o que eu penso

    tem relação com o que me fizeram achar que eu podia controlar


o que eu vivo

    é uma desengonçada dança entre esses dois


um pêndulo de conflito 

    entre o que é e o que eu acho ser

por meio da mente eu traço meus passos

aí tropeço e desfaço o que não era pra ser


quando eu escrevo

é a mente que me trava

o que não trava é o que sinto 

ele sempre tá ali, ansiando pelo momento

em que a covardia do meu pensar vai dar lugar

ao bonito fluxo desse rio que corre aqui dentro

que sempre soube de tudo que havia pra saber

que tudo é movimento

que nada permanece

que quando a gente esquece de como é ser criança

    a gente morre por dentro

        a vida se torna medo

            o medo se torna dor

e a mente vira protagonista desse jogo que eu não quero jogar

nesse mundo em que às vezes eu não quero viver

produto da consciência humana ainda em estágio primitivo

que dá nome a tudo pra tudo poder controlar

que transforma curiosidade em explicação

teoria vazia que se reflete na parede da caverna


ainda que a porta tenha estado sempre aberta, não saiu ninguém

porque ou sai todo mundo

ou cada um vai continuar vivendo só de imaginação


                        o que tem lá fora?


só de pensar, estragou

veio o medo, atrasou


medo é o contrário de fé

essa ninguém explica

mas todo mundo sabe 

até quem não tem.


e como a gente não sabe explicar

não pode achar que vai controlar


                então melhor evitar.


já ouvi por aí que viver é melhor que sonhar,

será que sentir é melhor que pensar?


sinto pra fora

fluxo constante

penso pra dentro

ansiedade de merda, irrelevante


e aí entendo

que minha vontade é puro sentimento

é o que realmente tenho de eu dentro de mim


por outro lado


vontade feita de pensamento 

é falsa esperança, desatenção, tombo besta em superfície plana, criação mal criada, humano perdido de si.


a mente cria ego frágil

já o coração, parceiro: fluxo constante, relevante, te eleva, não quer palavra, nem explicação, te dá o que precisa, sangue da criação, te torna mar denso, intuição, água profunda, intermediário entre o lado de cá e o lado de lá, te fala o que precisa, intocado, mesmo quando teu pensar tá ali pra te cegar.


se penso, logo existo

então se sinto, logo vivo. 


              

quarta-feira, 27 de março de 2024

uma nova volta ao redor de si

 e o sol nasce de novo

vive seu dia de novo

morre de novo

se transforma de novo


ainda que de novo isso não tenha nada

aguardo pelos sinais

anseio 

não sei mais se sou capaz


entendo que não depende de mim

eu filho da terra 

por vezes desespero


se a gente tá aqui pra amar

que tipo de aprendizado é esse

que jogo é esse que eu preciso aprender a jogar


me sinto amador

viver não é nada preciso

ainda que vivo transpiro dia após dia o que me destrói


se tem uma coisa constante nisso tudo é o amor

é pra ele bastar


escreve apaga escreve apaga

ao menos o fluxo continua

ainda que sem rima

sigo linha após linha meio que sem propósito racional

é só as pontas dos dedos me guiando o caminho


pouco plano agora

isso mudou tanto com o tempo

depois de tanto amor, tanta dor, tanta lágrima, tanto desconhecimento

sinto que cada palavra é um ato mágico dessa busca por despejar no papel

o que me mastiga por dentro


sempre que eu tento acessar o que as coisas um dia já foram

me deparo com o bloqueio gelado aqui dentro

o coração aperta ainda daquele mesmo jeito de dois anos atrás

ainda que agora eu tenha normalizado a ausência 


tô preso ou tô me prendendo a esse ego frágil que devia ser só um intermediário entre eu e tu

eu e o outro

o que eu acho que devia ser

o que eu tentei ser

o que eu não consegui ser


já tive sonhos

até perceber que nenhum deles era meu

ainda vivo esse limbo de tirar da minha frente toda uma vida de ilusão

de querer o que queriam pra mim

o que era conveniente pro jogo


eu

não

quero

jogar


eu não jogo mais esse jogo que assassinou meu irmão

dentro desse quarto de onde ainda escrevo

como que eu saio daqui


sou grato por ter um lugar pra lidar

"o que você ainda tá fazendo aí, Douglas?"

não sei 

tô tentando acessar

aceitar? entender? tô só esperando passar?


sei lá


ainda é tudo estranho por demais

reconheço que há cada vez menos auto piedade

há cada vez mais algo que ainda não sei nomear


que mania estranha essa de querer controlar

descrever

planejar


a ilusão de que é possível sair do lugar

no meio dos meus olhos eu habito

às vezes me esqueço

aí volto a lembrar


quero viver

aceitar

reprogramar esse inferno que aos poucos dá lugar

a alguma coisa nova, misturada com tudo que já fui


ainda falta presente


gratidão pela força, pela paciência e pelo discernimento

peço capacidade de reconhecer que eu floresço

vitória é dia após dia me manter em pé


será que um dia vou entender a razão pela qual eu tô aqui

mas tu não teve como aqui ficar?


isso em vida eu não vou entender jamais

e o trabalho é fazer essa mente cheia de ponto de interrogação deixar isso pra depois

e se guiar pelo que tá ao redor

pra conseguir lidar


esse mundo é coisa muito estranha

às vezes quando eu durmo eu sonho

e só acordo pra me perguntar

tô dormindo aqui?

será que eu vim de outro lugar?


6 da manhã de uma nova volta ao redor de si mesmo 

sábado, 16 de março de 2024

ninguém e o mal

não acho que ninguém seja mal

também não acho que ninguém não seja (:)

um pouco de si, um pouco do outro,

um tanto de sorte, outro tanto de fé,

nóis tá é tudo meio perdido,

meio encontrado, 

no meio do caminho

na encruzilhada

de joelho a gargalhar

te olha de frente: escolhe teu caminho e anda

te encara profundo, olho bem aberto,

de onde tu veio, onde tu tá,

pra onde tu vai, parceiro, aí é contigo 

(um pouco da tua condição, outro pouco da tua vontade, muito do que faz teu sangue pulsar, tuas pernas falarem não, aqui não me deito, sigo caminhando, mesmo em meio aos meus conflito, mesmo sem pensar direito)

ainda que fudido, só te resta mirar, 

pra daí errar, depois acertar, aprender, mas parar de disfarçar:


a dor é inevitável, 

                o sofrimento também.


não se apaixona por ele, não, mas deixa ele te ensinar,

não reprime o que veio pra te guiar

amor pelo teu destino,

amor fatiado por tanta dor

tanto recomeço, 

o bang é olhar pra trás só pra reconhecer que eu nunca esqueço

de onde eu vim, os tiro certo, as merda que fiz, tudo que eu mereço

não porque é meu mérito, mas porque é o que é, independente das lágrima tudo, de todo riso, de tudo que faz esse humano que pronuncia essas palavra gente

mais um

entre tantos

outro, 

sente

amor pelo que te torna tu

ódio pelo que te impossibilita ser

mais um

entre tantos: outro.

outra voz, outra ideia, outro ser, outro coração pulsante, mente cheia

nem sempre do que te agrada

mas sempre do que te rodeia.


Amor é aceitação consciente, nada além: ame!

Ódio é negação

mais nada: odeie!

com consciência


cada um tem seu lugar.

luz e escuridão/

    começo, meio e fim de caminho/

Aprender a amar o tal do amor verdadeiro

num é fácil, irmão.

e ninguém aqui é santo,

vivendo nesse mundo eu me espanto só quando alguém muito apanha e não levanta pra revidar.

nesse mundo de espinho, até a planta aprendeu que só suavidade não basta.

pra existir é preciso sangue no olho, gente como a gente ao redor e um tanto de solidão pra tu num esquecer quem tu é, tuas origem e teu caminhar.

ninguém é mal não, parceiro

mas nem todo mundo merece a tua mão só porque tudo é o que é,

feliz ou infelizmente

no fim a gente descobre.

agora o bang é andar e olhar pra frente. 

  

dor

o azul do céu é ironia em um coração que sentia. a graça da vida que segue se perde diante do que a memória guarda. sou corpo vi...