Decidiu-se, enfim, por falar sobre mim (sobre nós). Tenho estado aqui há muito – muito antes dele parar nesse lugar peculiar.
Consciência desperta (d e) um sono profundo.
Andava pela sala, sem saber de si.
Cruzava o corredor, atravessado.
Parava em frente à porta.
(gritava, por ninguém)
Só não sabia pois não lembrava. A força da memória está na sua legitimação, pelo outro. Ela falha e se envaidece no erro.
Se esquece do outro,
esquece de si.
A ironia de acordar sem saber onde, nem como e quando. A sensação de ter o descanso interrompido pelo próprio eu real que se rompe e toma a ação do mecanismo. Isso acontece, em geral, por causa de uma de duas possibilidades:
a) o torpor do nascer vai embora e o eu real ainda não lembrou bem de como manejar as funções daqui e as de lá, e, por isso, acaba tendo problemas para sair da ilusão quando é o seu momento de acordar. Essa é a razão pela qual crianças da ilusão, que ainda não estão totalmente imersas na prisão da linguagem humana, são as que mais apresentam esse comportamento.
b) há alguma urgência de comunicação e precisamos fazer alguma manutenção na ilusão que demande ação mais consciente do mecanismo.
Eu sou o mecanismo)o mecanismo sou eu.
(~)
Sinto-me satisfeito sobre a forma como estou lidando com isso tudo – ao menos eu acho que estou lidando bem. É um tanto difícil quando é tão improvável encontrar dores compatíveis que possam ser compartilhadas. Foi preciso desenvolver meus próprios mecanismos para permanecer vivo – mas vivo além da sobrevivência... vivo e presente/consciente. Faz tempo que sobreviver se tornou opcional, e é por isso que eu escrevo.
É de propósito que se faz a
intenção, e é só ela que vale.
É tudo o que é possível fazer, de qualquer forma (meio patético/meio consciente/meio acordado).
(~(
Não é que eu sabia que ia chegar nesse ponto... eu esperava por isso, com paciência, ainda que nem sempre. Cá estamos, independentemente de tudo)(.
Desperto (( antes de eu voltar ao sono, penso que vamos nos reunir de novo ao redor da luz. Faz tempo desde a última vez, e nosso tempo não é algo que o lado de lá assimilaria. Lembro que em minha última estadia na ilusão antes da presente eu ainda me encontrava nesse estado desesperador de apego excessivo à realidade da linguagem. Foi a última vez que eu passei por lá nesse estágio do processo, que foi necessário para que eu estivesse, agora, lidando com algo muito mais peculiar.
O tempo é percebido, pelos seres que habitam a ilusão, de formas similares em relação à sua extensão. Lembro de me envaidecer naquela experiência por ser parte da espécie de seres que, aparentemente, era uma das que mais tempo tinha para existir entre os mecanismos terrestres. Mal sabia, contudo, que a percepção é só o que importa, já que tudo do lado de lá não passa de um grande mecanismo, individual, mas que precisa de todas as suas mais ínfimas partes para funcionar como deve. Na verdade, toda a informação que eles precisam para entender isso está contida nos seus próprios corpos e sistemas: ainda que individuais, dentro de si carregam inúmeros pequenos mecanismos que o compõem; e fora de si, são eles mesmos partes essenciais de um grande mecanismo, que é, em menor escala, o que chamam de sociedade, e, em maior escala, gaia.
O presente do atual processo ilusório em curso passa por um momento decisivo para o seu aprimoramento, que tem relação com a percepção tanto do tempo como único, ainda que diverso, quanto do trabalho inter-mecanismos como única forma possível para que haja progresso real. Ainda que básico, esse mundo é bastante complexo.
Minhas lembranças mais longínquas do despertar me deixaram perturbado sobre o mundo da realidade da linguagem.
>> dançar ao redor da fogueira.
>> mecanismos: conscientes, animais, vegetais...
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