Identificação do paciente
Nome: Douglas William Machado.
Idade: 33.
Profissão: Professor.
Religião: Todas e nenhuma.
Estado civil: Solteiro.
Grau de escolaridade: Graduação em Letras Português/Inglês e Mestrado em Literatura Comparada com História (representações literárias de Cristóvão Colombo em solo americano).
Outras informações relevantes:
Dados relevantes da história: vida tranquila por demais até 2017, quando minha mãe desenvolveu bipolaridade em um surto psicótico ocasionado, majoritariamente, por ser ensinada desde cedo a levar o mundo nas próprias costas e não pedir ajuda; descobri as drogas com 16 anos, quando comecei a usar álcool e cigarro, o que nunca foi um grande problema, porque, para mim, o álcool só potencializa o que você já tem dentro de si (assim como as drogas em geral); minha relação com drogas em geral é um ponto chave na minha vida, pois algumas delas muito me ajudaram, enquanto outras muito me atrapalharam na missão.
Depois do álcool e do cigarro, brinquei até por volta dos 18 anos com inalação de buzina com os amigos adolescentes, o que nunca agregou em nada, mas também não atrapalhou a minha vida. O uso de álcool sempre foi uma constante, já que é o normal na sociedade em que estamos inseridos. A partir dos 20, descobri substâncias como o Nbome/Nboh, que ingeria achando que era LSD. Sempre foram experiências tranquilas, ainda que algumas levassem ao que chamamos de "bad". As bads sempre foram, para mim, um sinal de que eu precisava lidar com algo dentro de mim, e eu sempre tentei ouvi-las e melhorar o que pudia. Descobri o LSD e o mundo dos psicodélicos verdadeiros em 2017, em Curitiba, poucos meses antes da minha mãe ter seu primeiro (de dois) episódio de surto psicótico.
Descobri, também por volta dos 20 anos, a cannabis sativa, que sempre atuou como uma mão amiga, por vezes sendo bastante divertida, e por outras desencadeando minha ansiedade, o que, como vejo, é um problema que tava dentro de mim e eu precisava lidar. Já passei, até meus 33 anos de vida, por várias fases com a maconha, com pausas pontuais por alguns meses, para lidar com situações internas, até o uso diário, que sempre acabou com a mesma conclusão: ela é uma planta ritualística, o que não significa que só preciso usá-la em situações de religação com o mundo espiritual, mas significa que seu uso diário (para mim) acaba tornando o que deveria ser exceção a regra, e isso não é bom. Aprendi, ao longo dos anos, a dar muito valor para a minha sanidade (seja lá o que isso, de fato, signifique) em relação ao uso de substâncias (seja sobre as lícitas – açucar, tabaco, café, álcool – ou sobre as ilícitas). Acredito que o mundo seja tanto um lugar de expiação e provas quanto um grande parque de diversões material e espiritual. O problema é que o proibicionismo é baseado em uma moral falha e controladora, que não permite que os seres humanos descubram por si próprios os reais benefícios e danos do uso seja lá do que for.
Os psicodélicos que experimentei (em ordem) foram: LSD, psilocibina (cogumelos) e DMT (ayahuasca e o próprio DMT puro, sintetizado).
As drogas ilícitas não-psicodélicas mais relevantes no curso da minha vida (impactantes/que fizeram diferença, seja para o bom ou para o ruim) que experimentei foram os estimulantes: MD (êxtase/bala – e os que se passam por essas substâncias, que foram, em geral, ingeridos sem eu saber o que eram), cocaína e 2CB ("cocaína rosa").
Psicodélicos, etimologicamente falando, significam "entrar (delia) na alma/mente/psiquê (psico)". São substâncias utilizadas há milênios por povos que nunca tiveram contato entre si. Os maravilhosos cogumelos mágicos já foram chamados de carne dos deuses na américa pré-colombiana. Até hoje, os indígenas "americanos" se utilizam do chá de raiz de jurema chamado de "ayahuasca" para entrar em contato consigo mesmos e com as entidades que nos cercam.
A primeira vez que tive real contato com psicodélicos foi, como mencionado acima, com uma quantidade de 150ug de LSD, em Curitiba, em 2017. Eu achava que já havia ingerido essa substância, até, de fato, ingeri-la. Foi a experiência psicodélica mais intensa da minha vida. Não tive outra igual. Fiquei sabendo depois, ao pesquisar as experiência que tive mais a fundo, que eu passei pelo que se chama de "morte do Ego", quando as palavras/ideias que você conhece se desligam do significado mental que elas têm para você. Além disso, perdi completamente minha noção de tempo (não sabia o que era antes ou depois mais) e tudo virou um assustador túnel de luz e som. Isso me deixou totalmente apavorado, já que eu, enquanto sujeito bastante cético em relação às coisas, nem sabia que isso era possível. Esse foi o início da minha vida espiritual como a vejo hoje. Tudo virou mais mágico. A possibilidade de algo como o que aconteceu acontecer sempre me deixou num misto de medo com curiosidade. Essa experiência me deixou mais humilde em relação ao mundo. Passei a entender eu mesmo como só mais uma parte de um grande todo que eu ainda estou descobrindo o que é: não menos nem mais importante que nada.
Exatamente um dia antes de descobri que minha mãe estava passando por um real surto psicótico eu fui em uma festa eletrônica em Curitiba. Cheguei na cidade cerca de um ano antes, com planos de montar uma banda e tocar metal. Meus planos foram frustrados por não conseguir achar as pessoas para isso, ou, quando achava, não dava certo. Nesse dia, então, fiquei sabendo de uma festa e, apesar de não conhecer ninguém, fui até lá. Como sempre, estava ansioso por experiências novas, que me mostrassem mais do que esse mundão tem a oferecer. Na festa, conheci um cara que me deu 2 balas (êxtase), de metade em metade. Cerca de 1 hora depois eu era a pessoa mais feliz do universo. Eu abraçava todo mundo e só queria que aquilo durasse para sempre. Foi a minha primeira experiência com estimulantes ilegais, e foi uma das melhores coisas pelas quais já passei. Me perdi dentro da minha própria mente enquanto um Techno espancador tocava. Aí, então, eu conhecia a música eletrônica e as "balas", com meus 27 anos de idade.
São dois extremos muito similares de moedas completamente diferentes, mas, ainda assim, moedas: os psicodélicos e os estimulantes. Hoje entendo os primeiros como libertadores (se a intenção for adequada) e os segundos como escravizadores (que se dividem naqueles demônios que não se pode ter por perto – cocaína – e aqueles demônios com quem eu consigo fazer amizade e dar uns rolês tranquilos de vez em quando – bala/êxtase. Enfatizo que falo da MINHA experiência.
Depois de estar em um lugar com muito mais acessibilidade, principalmente em relação a certas drogas sintéticas (LSD e MD) e minha família ter entrado em uma espiral de desgraça que culminou no suicídio do meu irmãozinho, Daniel (descanse em paz e até breve, serzinho de luz), ainda em 2017 eu me afundei bastante no uso de uma delas: MD (balas/êxtase). Sempre digo que levei sorte de não ter estado próximo de pessoas que usassem cocaína. Usei algumas vezes nesse ano, mas essa substância não foi um problema até 2021. Eu virei um real emocionado ao descobrir essa porra. Contudo, como entendo hoje, ela foi apenas um sintoma de muita coisa que eu não queria enxergar dentro de mim e com as quais eu precisaria, eventualmente, lidar. Foram vários rolês de 3, 4 dias sem dormir usando balas e dançando. Veja que, apesar de ter sido algo bastante danoso, me ajudou a fugir da realidade com a qual eu não conseguiria lidar. Conheci pessoas sensacionais no meio eletrônico nessa época, tive experiências surreais de conexão, e eu não me arrependo nem por um segundo de ter passado por isso.
Percebi que o problema era real em dois momentos: em um final de semana, tomei 2 balas inteiras num intervalo de tempo bastante reduzido. Passei a festa toda no banheiro vomitando. Entendi que meu corpo não concordava com meu estilo de vida; o segundo momento foi em uma rave, em que me apareceu de novo a oportunidade de, ao invés de bala, tomar um LSD real. Dou graças aos psicodélicos por causa de dias como esse. Ele começou a bater e, logo, eu comecei a ter alucinações auditivas. Ouvia coisas como "Ele é muito velho para estar aqui" e "Olha o tiozão querendo ser novinho", e outras coisas relacionadas. Como eu já havia estudado um tanto o que o LSD e os psicodélicos fazem com nosso cérebro, logo entendi que estava apenas passando por uma bad MONSTRA. Sentei em um canto, coloquei a cabeça entre as mãos e esperei passar, enquanto Freedom Fighters tocava, guiando minha mente e meu espírito por caminhos que foram por demais assustadores, mas ao mesmo tempo surrealmente deliciosos. Houve momentos em que eu me senti no centro de uma enorme clareira, em que todo mundo me olhava, mas, de fato, ninguém estava nem aí para mim: era apenas meu ego, que precisava ser um pouco esmagado por estar grande por demais.
Esse dia, com esse LSD, me fez entender que eu precisava de mudanças drásticas no meu modo de vida. Na semana seguinte decidi que ia parar de usar tudo o que estava usando (com exceção da mãozinha amiga chamada maconha) e ia buscar auxílio psicológico. Fiz terapia por cerca de 6 meses, e isso me fez entender algumas coisas: maconha é apenas mão amiga, uma pequena lupa que amplifica o que quer que você esteja sentindo; LSD é uma grande lupa, que vai te arrombar por dentro e expor coisas que você não fazia ideia que estavam ali (o que pode ser bastante perigoso e pode fazer com que pessoas que não entendam a diferença entre a "realidade" caiam em ciladas que levem pra vida, ao invés de deixarem na brisa o que tava na brisa); e cocaína é uma grande desgraça (apesar de não estar usando na época, tive contato com as primeiras pessoas que eu vi se fuderem gostoso por causa dessa porra. Desde então, TODOS os que vi emocionados com essa merda se fuderam em algum momento, sempre achando que estava "tudo sob controle").
Além disso, a mistura adequada de psicodélicos com terapia e autocrítica também me levou a: conhecer um centro Budista em Curitiba, e isso me fez aprender a meditar; comecei a andar de patins e cuidar do meu corpo de verdade; minha alimentação (passei 5 anos sem comer carne) melhorou e eu passei a estudar nutrição para entender como melhorar a mim mesmo. O problema que hoje vejo em relação a isso foi: eu não sabia lidar com a minha obsessão por controle e passei a fazer isso militarmente. Isso me levou a, quando eu não conseguia manter o andamento dessas práticas, eu parasse de fazer tudo o que me fazia bem por um tempo, até ficar ruim e voltar a ser militarmente disciplinado de novo, o que me levava a repetir o ciclo, ad infinitum. Aprendi a lidar com isso na terapia que fiz em 2021, já em Cascavel, antes de me afundar de leve na cocaína.
Ainda, desde que fui para a terapia, meu objetivo não era parar de usar MD (bala/êxtase): a ideia era estudar e perceber se eu conseguiria fazer seu uso se tornar algo não tão danoso para meu corpo, minha mente e meu espírito, já que, meu objetivo com o uso dessa substância, era apenas ter energia para dançar por tantas horas quanto durassem os rituais (festas eletrônicas), e sem sentir dores. Desde 2019 eu entendi que, ao menos para mim, isso era possível: bastava eu unir meu gosto pela dança com a minha capacidade de ter disciplina, para não me emocionar quando usasse. Acabo me emocionando ainda às vezes, mas nunca a níveis tão alarmantes quanto em 2017. Penso que nosso corpo físico nos foi dado para que seja usado. Unindo isso aos necessários cuidados e à períodos de desintoxicação (1 vezes por ano eu fico sem usar nada por cerca de 2 meses), é possível tirar brisas que fazem a vida valer a pena. Para mim, dançar até esquecer a hora que eu comecei a dançar me dá dias de afterglow ("brilho" + "depois": termo cunhado por usuários de drogas alteradoras de consciência que faz referência a dias tranquilos e felizes seguintes ao uso) sensacionais, que eu consigo usar a meu favor, tanto pessoal quanto profissionalmentre
Eu voltei de Curitiba para Cascavel um tempo depois disso, quando terminei o relacionamento que mantive por 8 anos com uma pessoa sensacional demais (nossos caminhos apenas divergiram o suficiente para não mais fazer sentido estarmos juntos – somos bons amigos até hoje). Eu não sabia, ainda, se voltaria para cá, quando a possibilidade de término se mostrou real por demais à minha mente.
Lá vêm os psicodélicos de novo: minha família passava por momentos tenebrosos ainda. Minha querida avó (até breve, véinha gente boa demais) veio a falecer um tempo depois da minha mãe ter desenvolvido o surto que mencionei, meu irmão se separou da mãe do Arthur, com quem manteve uma relação excessivamente tóxica (para ambos) por tempo demais, e foi morar de volta com meus pais no apartamento deles, as finanças não iam bem para ninguém etc.
Nessa época, eu dava aulas particulares em Curitiba. Um dia, um aluno me falou que iria para um ritual de ayahuasca. Demonstrei interesse e ele me convidou a participar. Para isso, eu precisaria ter uma intenção em mente. Após pensar bastante sobre, entendi que minha intenção era "ajudar minha família". Como fazer isso eu não fazia a menor ideia. Fui ao ritual e, em resumo, ao sair de lá no dia seguinte, eu imediatamente recebi mental/espiritualmente a mensagem: VOLTE PARA CASCAVEL. O que isso me traria eu não sabia. Eu temia me torar mais um elemento de problema, ao invés do intermediador que eu sempre busquei ser, caso voltasse. Ouvi minha intuição e voltei para cá.
Aos poucos, ajeitamos algumas coisas. A mãe do Arthur estava morando sozinha no apartamento no mesmo prédio dos meus pais e do meu irmão. Enquanto isso, meu irmão morava com eles. Vim para o apartamento junto com a mãe do Arthur e, eventualmente, eu e meu irmão estávamos morando aqui. Foi tudo lindo e maravilhoso até o início da pandemia. Quando a pandemia começou, eu tinha acabado de sair de um período de desintoxicação. Eu passei o carnaval todo em casa. Fiz jejuns, meditei e fiquei sem usar nem tabaco por esse tempo. Ao sair da pandemia, por sorte, fui na última rave que teve antes da pandemia, lá em Beltrão. Aproveitei tudo o que podia, pois já sabia que ficaríamos um bom tempo sem festas. Tomei algumas balas e "enchi o cu" de cerveja até não poder mai$. Depois disso, a presença da pandemia foi brutal. Comecei a encher a cara de álcool e fumar mais do que nunca. Além disso, comecei a procurar alguém com quem pudesse ficar, carnalmente falando. Foi um doido da cabeça encontrando uma doida da cabeça. Nada de novo sob o sol, a não ser pelo fato de que foi a primeira vez que eu, com 31 anos, quebrei uma das principais regras mentais que eu sempre mantive: não se envolver com alguém se estiver fudido da cabeça, pois isso só atrai gente que também tá fudida da cabeça.
Deu no que deu. A gente se fez muito bem e muito mal. Ambos nos fudemos grandemente. Ambos com alguma culpa. Hoje reconheço o quanto essa pessoa me fez mal, mas também reconheço o quanto eu não saber falar não na época (ainda tô aprendendo, mas já tô beeem melhor do que antes) fez mal tanto pra ela quanto pra mim.
Quando a pandemia começou a "afrouxar", caímos ambos em um círculo social todo fudido mentalmente (difícil achar quem não tava fudido mentalmente por causa do combo: pandemia + Brasil bolsonarista), que escapava da realidade por meio do consumo habitual de cocaína. Caímos nisso também. Perdi cerca de 10 kilos em cerca de 2 meses. Não cheguei a consumir diariamente, mas cerca de 3 vezes por semana, o que já foi o suficiente pra eu não saber mais o que eu sentia e começar a ter "surtos" pontuais que não permitiam que eu visse as coisas como elas eram.
Em novembro, com a ajuda de eu mesmo + conversas com meu irmãozinho + terapia, consegui juntar forças para terminar esse relacionamento. Foi um período tenebroso. Terminei enquanto ainda gostava. Tive várias recaídas e várias coisas aconteceram num tempo absurdamente curto. Voltei a morar com meus pais por cerca de 2 semanas, enquanto tentava organizar as coisas no apartamento aqui embaixo. Estava eu há cerca de uma semana mais tranquilo. Nesse meio tempo, antes de terminar ainda, conheci também o que a indústria farmacêutica tinha de melhor para tornar o ser humano uma gosma mental: rivotril, alprazolam e relacionados. Depois de terminar, consegui largar a cocaína e os remédios, por conta de vários fatores. Passei por uma semana um tanto quanto tranquila, até acontecer a maior tragédia que eu e minha família já vivemos: meu irmão cometeu suicídio, em 11 de dezembro de 2021.
No dia, eu já recorri ao uso de rivotril, pois sem isso não conseguiria me manter vivo. Dois dias depois, vi a psiquiatra da minha mãe, que sugeriu que eu fosse internado. Isso seria muito bom para mim, mas eu ficaria longe das pessoas que mais precisavam de mim naquele momento: meus pais e meu sobrinho. Pedi que ela me receitasse rivotril e ela também me receitou cloridrato de sertralina. Além desses remédios, eu passei a usar Ketamina 4 ou 5 vezes por semana. Hoje, há cerca de 4 meses sem essa substância (que foi removida da minha vida por meio de, pasmem: cogumelos mágicos – no carnaval de 2022 eu e minha família fomos para o sítio da minha vó, em SC, e eu passei o dia colhendo cogumelos mágicos em meio à bosta das vacas, para, de noite, ir para o meio do mato, sozinho, no escuro e no silêncio, consumir cerca de 3 gramas deles [minha intenção foi clara: não depender mais de ketamina para conseguir ficar vivo – ao voltar, usei a substância apenas mais uma vez, e percebi que já não precisava dela]), percebo que ela foi extremamente necessária para que eu não cedesse à vontade de me enforcar na parede do meu quarto, da mesma forma que meu irmãozinho fez. Infelizmente, os remédios sozinhos não continham as visões que eu tinha do que vi. Eu precisei me amortecer a níveis que eu nem sabia ser possível para passar pelo que passei.
Hoje, estou usando 0,5mg de alprazolam e 0,25mg de sertralina para dormir. No início do ano, eu usava cerca de 2mg de rivotril + 0.50mg de sertralina + uma pá de ketamina e muito álcool diariamente para conseguir ficar vivo. Estou passando "sozinho" pelo processo de desmame, já que não tenho dinheiro para psiquiatra. Acredito estar tudo correndo bem. Tenho estado bastante alerta sobre minha própria mente e a depressão por que passei me fez entender que eu preciso ser gentil comigo mesmo, para que a vida continue a valer a pena ser vivida.
P.S.: experiências extra que me fizeram ver o mundo como ele é e a moldar minha relação com as drogas.
1 - Eu e meu maninho na nossa primeira rave (Curitiba em 2017): depois de tomar LSD, MD e fumar um monte de maconha, a gente se olhou, de longe, e, sei lá como, ao mesmo tempo falamos: A GENTE VEIO DO MESMO LUGAR. A percepção dada pela psicodelia das substâncias, do ambiente, das pessoas ao redor e do som que tocava fizeram isso ser profundo de um jeito que ficou cravado na minha mente e no meu espírito sem nunca sair daqui. Isso significou não só da mesma mãe, como da mesma substância primordial/cósmica/sabe-se lá o quê.
2 - Eu e meu maninho em uma volta doida por um parque de Curitiba com um lago no meio com o mesmo LSD que matou meu Ego semanas antes: tomamos metade do LSD (75ug) que eu tomei para ir andar até um parque que ficava razoavelmente perto da minha casa, em Curitiba, e foi o suficiente pro meu irmão ter a ego death dele. Lembro até hoje da gente ao redor do lado. Cada volta era um universo totalmente novo, conforme a psicodelia se instaurava. A placa dessa imagem teve um significado absurdo pra gente nesse dia:
A placa não era essa. Depois de procurar, percebi que não tenho mais a original. A ideia é a de dois sinais de proibido: um de pescar e outro de nadar. A percepção que tivemos era relacionada ao ar ser para nós o que a água é para os peixes, e vice versa; isso foi unido à percepção de que o mundo nos proíbe de cruzar as fronteiras da nossa percepção.
As above, so below: tudo o que está em cima é como o que está embaixo, e tudo o que está embaixo é como o que está em cima, meu maninho. Sempre foi assim e sempre vai ser.
3 - Eu e meu maninho em uma rave em Palotina no final de 2020: essa rave teve dois palcos: 1 de música 'acelerada' e outro, que era um chill out. No chill out tocaram alguns amigos nossos. Um desses amigos tocou uma música chamada Areia Branca, do Gaia piá. LSD estava presente quando isso aconteceu. Vou colocar na íntegra a letra abaixo:
Não consigo mais viver longe do rio
Não consigo mais viver
Sem a presença constante do sol
Caminhando com os pés descalços na areia branca
Caminhando com os pés livre como uma criança
Revelando segredos que habitam em nosso próprio ser
Fui perceber que estamos aqui
Apenas para se ajudar
Aprendendo a amar, o verdadeiro amor
Estamos aprendendo a amar, o verdadeiro amor
As águas caem de graça vinda das cachoeiras
O vento me soprou a manga que caiu da mangueira
Todo dia é dia de cultivar a terra fruto das gerações
Todo dia é dia vamo fazer orações peço a paz pelo mundo
Está se passando o tempo de ajudar os seus irmãos
Não viver para si só
Mas já é dado o momento de expressar
O sentimento que sai do fundo do coração
Oooh oooh
Como é simples esse viver
O homem estão complicando o simples viver
Estamos aprendendo a amar
O verdadeiro amor
Essa letra, nesse dia, com o Bruninho tocando, foi o que me fez entender definitivamente o sentido da vida e a razão pela qual estamos aqui. É bem mais simples do que o que fazemos parecer ser. Estamos aqui apenas pra se ajudar, aprendendo a amar o verdadeiro amor. Por que fazer isso? Foda-se. O que vamos ganhar com isso? FODA-SE. Estamos aqui pra isso, e tenho tentado desde então viver isso, ainda que falhando miseravelmente muito mais vezes do que gostaria.
P.S. 2: penso, depois de escrever isso, que a gente (eu e meu maninho) se aprofundou tanto na nossa própria alma por conta das percepções dadas pelos psicodélicos que condições de sobrevivência que não permitam que sejamos o que viemos aqui pra ser nunca mais vão ser suficientes. Penso ser essa uma das razões que estimularam o suicídio dele a acontecer. Ainda lido com culpas relacionadas a isso ter acontecido. Meu irmãozinho era o maluco beleza por excelência, e ele nunca ia conseguir se encaixar no que esperavam que ele fosse. As saudades são tantas, mas a noção de que vamos nos ver novamente deixa tudo suportável.
Tríade cognitiva
- Visão de si: sou um espírito encarnado aprendendo a fazer o que estamos aqui para aprender (amar o verdadeiro amor/se ajudar – a si e ao próximo). Ainda tenho tanto a aprender.
- Visão de mundo: lugar de expiação e provas, mas também um grande parque de diversões e experimentação. Estamos aqui sob um grande teste, que vai nos levar não importa onde. Só o que importa é aprendermos a amar o verdadeiro amor/a se ajudar – a si e ao próximo.
- Visão de futuro: ou aprendemos a nos ajudar, ou a extinção nos aguarda. Eu, hoje, entendo que tudo o que posso fazer é o que consigo fazer. A cada dia tento entender mais o que isso significa, e como fazer isso sem cair em megalomanias castradoras que mais atrapalham do que ajudam. Entendo, ainda, hoje, que só posso agir de forma local – ampliar isso ou não depende de muito mais circunstâncias do que minhas limitações me permitem entender.