quinta-feira, 27 de junho de 2024

B de várias fita

B de confusão

perdi as contas de quantas vezes na vida fiquei perdido sobre o que eu tava sentindo fazendo sendo digerindo

quando era criança

chegar perto de menina tudo certo

de menino só se fosse pra agir como se tivesse algo a evitar

ofender mostrar quem manda e quem obedece


B de meu azar foi ser uma criança pequena

ou B de benção? acabei nunca jogando esse jogo por cima

e aí acabei nem querendo depois

e achando isso tudo uma merda

bullying foi meu sobrenome por tanto tempo

que entre meus 7 e 9 anos eu literalmente não lembro

de nada além da dor de existir na escola

apesar de uma família tranquila

minha mente apagou todo o resto

quando olho lá pra trás 

sinto só um gosto indigesto


B de é lá bem lá atrás que todo certo e errado se forma

depois a vida é passar tentando resolver tudo os BO 

programado no inconsciente sem dó

menina com menino na dança da festa junina

pegar na mão das meninas? tudo certo

dos meninos? "coisa de viadinho"

encostar nos meninos só se fosse no "hoje não"

com a violência que mais tarde é transtornada em violência contra as mina

e amor recalcado pelos parceiro de roda de bar

em que se odeia quem não se enquadra

já que se um precisa se esconder

ai de quem se atrever a viver 

a sentir, a se permitir, a desejar o que se deseja

a repressão de qualquer afeto diverso na descoberta do desejo

se torna raiz profunda e doente

por dentro só a fragilidade do desconhecimento de si


muito antes

já se consolidava no inconsciente

que num tipo de ser humano se podia tocar

no outro tipo só se fosse pra esculachar 

reforçar seus armário em construção

lá no fundo da mente

pra depois que crescer não saber o que fazer

achar que viver é desejar possuir

produto, coisa, bicho, gente


e aí tamo aí

tudo fudido num mundo decaído deprimido ansioso até o talo sem saber o que fazer ser esperando o que vai acontecer o que vão fazer de você quando não tiver mais botão pra apertar engrenagem pra girar trabalho pra trabalhar alguém pra enriquecer caralho será que só nascemos pra se fuder?


nah

se não eu nem tava escrevendo isso tudo aqui

não sei qual é

mas vou vendo

ciente de que tem muita coisa acontecendo


B de cultura decadente

fui criança anos 90

momento de país recém parido pela ditadura

é liberdade que vocês queriam?

mercado externo chegou arrombando toda possibilidade de um futuro não colonizado

o tal do pensamento neoliberal

a gente não sabia bem o que era liberdade

mas sempre foi com a cara dela

aí então, ensinaram direitinho como convinha pra quem detém o controle da verdade do capital

"liberdade é liberdade de consumir e ser consumido"

e a infância é só o campo de prática inicial do que essa sociedade cansada quer de você


a ironia de viver escondido

B de banido do paraíso que isso tudo podia ser


B de aprende cedo: 

vai crescer

consumir

formar família

consumir

ter filho

consumir

arrumar trabalho

ser consumido

e esperar a sua vez de morrer

consumido da pele aos ossos pelos vermes que te aguardam 

na fome de acabar com essa babaquice toda que essa porra se tornou


B de 1988, sou da geração filha da constituição, do começo da internet e de sonho comprado a prazo pra um futuro inexistente


B de nesse quadrado quase ninguém se encaixa

mas todo mundo tenta

porque "é o jeito, tem os boleto tudo pra pagar"

fora disso é perigoso

ou um lado ou outro

escolhe


e aí eu escolhi até perceber que eu num escolho é nada

vai acontecer o que for pra acontecer

agradece se tu tá em movimento

até sua ação depende do que fizeram de você

e isso inclui atração e a sorte de se permitir perceber

de repente

um dia fiquei sabendo que existia uma tal de letra B


B de fronteira entre aqui e lá posicionado sem lugar pra sustentar essa vida toda de desentendimento 

de quebrar a martelada o armário em que eu não mais me encaixava


B de passei tanto tempo me confundindo com as letra tudo

mas hoje tô calejado de tanto fazer revisão


de tanto ficar tentando ser só o que sou

acabei sendo,

e vou ainda revendo


B de cautela eterna pra não me tornar o que não vai ajudar


B do que eu quiser

raiva desgosto com esse mundo escroto

ou da suavidade de um dia começando com café

de final sem rima até

ou com ela pra adocicar

esse gosto amargo de ter demorado tanto pra perceber


que viver

devia 

ser 

só o que se é.

dor

o azul do céu é ironia em um coração que sentia. a graça da vida que segue se perde diante do que a memória guarda. sou corpo vi...