terça-feira, 30 de abril de 2024

terra e sangue

Versão Slam

rio que deságua em solo árido
chão que te tomou faz tempo o que tinha de vida nas vista

solo sangrento
história apagada
dilacerada, disfarçada de 
"aventura"
"desbravamento"
"descobrimento"

piada pronta e nojenta

ódio aflorado no hoje 
na consciência desperta

cada irmão morto me deixa mais no veneno
depois de tudo as mordida dessa cobra de nome cascavel

todo lugar onde aqui tu pisa tem resquício de sangue derramado
em prol de um progresso que nunca foi teu

sujeito europeu pisou aqui

pensou
planejou

            executou)

qualquer semelhança com o presente é só a roda da história
ainda escorrendo o sangue de quem caiu e cai por baixo dela

é difícil às vezes manter a fé na gente
quando tá aberto o olho cheio de sangue da memória
e se percebe que a vitória é 

                                    da violência

derrota amarga
luta incessante

o mesmo sol que brilha hoje brilhou quando caiu 
cada corpo violado por cada mão estrangeira
que já tocou nessa terra brasileira

e falar de brasil, mano, chega a ser escárnio

adeus Pindorama, terra farta, de vida, de fluxo, de bicho, de planta e de gente
e também de sangue, suor e lágrima

porque paraíso é o caralho
é terra, planeta e a circunstância toda de ser humano
de ser gente
de ter no peito um coração que 
                                            sente))) 

chegaram de arrasto, de intenção e propósito claros, brancos

é difícil manter a fé, irmã
na possibilidade de um mundo bom
quando cada grão dessa soja podre 
é colhido ao nosso redor pra encher 
o bolso de algum arrombado engravatado

o agro é pop só na puta que pariu
aqui o agro é disfarce 
pra manter apagada a história que tu nunca viu

tamo tudo derrotado
só que nunca vamos parar de lutar

por quem caiu
por quem viu
por quem resistiu
por quem sangrou
por quem viveu e por quem morreu

                        e também por quem vive agora.

falam de progresso sem falar no processo, 
no extermínio, em cada retrocesso
em cada alma que partiu em nome do sucesso 
de quem tá no lado errado da história

                    e aqui não vai ter relativização/

desde lá de trás, gente da minha família já tirava a própria vida por não suportar existir
nesse lugar em que ou se resistia de cabeça baixa ou já se aprontava pra partir

é história de corda no pescoço, de tiro na própria cara, de desgosto,
de abuso de álcool e espancamento de mulher 
que gerou alguém, 
    que criou alguém, 
        que deu à luz alguém, 
            que teve um filho com alguém, 
                que ensinou alguém
                    que cuidou de alguém
                        que virou refém
                            que foi forte, além da própria sorte
                                que foi mãe de pai e mãe meus, 
                                    que, de alguma forma, se tornaram eu.

e aí de repente,
tô aqui

herdei a cor dos assassino
e herdei a dor do campo de extermínio que essa porra toda foi

eu morro
mas eu morro tentando
fazer disso aqui
um bom lugar

e essa veia aberta eu vou continuar a abrir
até todo sangue derramado coagular
pro que tiver que fluir
poder só desaguar num mundo em que seja possível realmente habitar

    viver
        florescer
            resgatar
                   terminar
                                
                            em paz.
________________________________

versão completa

movimento
momento presente
começando com mão leve
sabendo que o peso vem sem piedade
bora falar de verdade

o mundo é pêndulo
o humano: equilibrista

rio que deságua em solo árido
chão que te tomou faz tempo o que tinha de vida nas vista

solo sangrento
história apagada
dilacerada, disfarçada de 
"aventura"
"desbravamento"
"descobrimento"

piada pronta e nojenta

ódio aflorado no hoje 
na consciência desperta
pra que haja mais amor no amanhã
cada irmão morto me deixa mais no veneno
depois de tudo as mordida dessa cobra de nome cascavel

nada disso tá longe do que tu é não, parceiro
logo aí, habitava vida, do teu lado 
é improvável que onde tu pisa não haja resquício de sangue derramado
em prol de um progresso que nunca foi teu

sujeito europeu pisou aqui
"como é possível que isso tudo não se torne meu?"

pensou
planejou

            executou)

qualquer semelhança com o presente é só a roda da história
ainda escorrendo o sangue de quem caiu e cai por baixo dela

é difícil às vezes manter a fé na gente
quando tá aberto o olho cheio de sangue da memória
e se percebe que a vitória é 

                                    da violência

derrota amarga
luta incessante

o mesmo sol que brilha hoje brilhou quando caiu 
cada corpo violado por cada mão estrangeira
que já tocou nessa terra brasileira

e falar de brasil, mano, chega a ser escárnio

adeus Pindorama, terra farta, de vida, de fluxo, de bicho, de planta e de gente
e também de sangue, suor e lágrima

porque paraíso é o caralho
é terra, planeta e a circunstância toda de ser humano
de ser gente
de ter no peito um coração que 
                                            sente))) 

batizados conforme convém pra quem te consome
importados de terra distante
ignorantes por consequência   
fizeram a gente de aparência
meteram a mão no que essa porra tinha de mais precioso: a vida real
não essa palhaçada de trocar tempo por papel 

chegaram de arrasto, de intenção e propósito claros, brancos

a coroa da rainha virou enfeite em cabeça que infelizmente jamais caiu 
só se fortaleceu depois de cada banho de sangue
derramado de cada ser humano que aqui antes existiu

é difícil manter a fé, irmã
na possibilidade de um mundo bom
quando cada grão dessa soja podre 
é colhido ao nosso redor pra encher 
o bolso de algum arrombado engravatado

o agro é pop só na puta que pariu
aqui o agro é disfarce 
pra manter apagada a história que tu nunca viu

antes cano de escopeta
hoje cano de fuzil
antes araucária no chão
hoje moto serra abrindo caminho pro fim disso tudo

                        e que venha de uma vez

já foi sangue demais pra fora
hoje se sangra pra dentro até que não se aguente mais
essa roda de mais valia e exploração incessante

tamo tudo derrotado
só que nunca vamos parar de lutar

por quem caiu
por quem viu
por quem resistiu
por quem sangrou
por quem viveu e por quem morreu

                        e também por quem vive agora.

em pé vamos ficar
até todo mundo morrer
ou até esse mundo se tornar um lugar em que seja possível viver de verdade

falam de progresso sem falar no processo, 
no extermínio, em cada retrocesso
em cada alma que partiu em nome do sucesso 
de quem tá no lado errado da história

                    e aqui não vai ter relativização/

malemal vai ter rima

nem compaixão

meus antepassado chegaram aqui atrasado
tudo expulso de antiga terra, sem história de vida pra contar, 
de passado a ser apagado
só o sonho de levar uma vida menos errante, 

                quem sabe mais radiante/       

e só o que chegou até mim 
não sei se por sorte ou maldição
foi a consciência de que nóis foi tudo deixado na mão

sei lá o que veio de lá
não sei bem o que compõe a história do meu sangue
só ouvi falar que algum chão que aqui já se habitou foi aos poucos levado embora

            produto a ser vendido e comprado
                concreto morto lá fora

desde lá de trás, gente do meu sangue já tirava a própria vida por não suportar existir
nesse lugar em que ou se resistia de cabeça baixa ou já se aprontava pra partir

é história de corda no pescoço, de tiro na própria cara, de desgosto,
de abuso de álcool e espancamento de mulher 
que gerou alguém, 
    que criou alguém, 
        que deu à luz alguém, 
            que teve um filho com alguém, 
                que ensinou alguém
                    que cuidou de alguém
                        que virou refém
                            que foi forte, além da própria sorte
                                que foi mãe de pai e mãe meus, 
                                    que, de alguma forma, se tornaram eu.

e aí de repente,
tô aqui

contando a história da violência, da monocultura assassina,
da grilagem, da cobiça maldita
da desumanização da dor e do amor

herdei a cor dos assassino
e herdei a dor do campo de extermínio que essa porra toda foi

de viver vida errante,
de passado não muito distante
que vem me assombrar em cada noite de sono
tentando me convencer de que aqui não é pra eu ficar

eu morro
mas eu morro tentando
fazer disso aqui
um bom lugar

contei uma história comum desse tempo e desse lugar estranhos em que eu nasci
nativo desnaturalizado de terra que invadi 
descompasso constante nessa dor que se manifesta
tipo vento que vem de porta aberta em dia de inverno

inferno.

e lá atrás, bem antes de mim,
sem saber bem de onde vinha,
o que acontecia,
pra onde ia,

chegaram até aqui então
e aí
cheguei até aqui agora

e esse livro eu vou continuar a abrir
escancarar pra parar de errar
libertar todo esse carma maldito

cada vez mais

até todo sangue derramado coagular
pro que tiver que fluir
poder só desaguar num mundo em que seja possível realmente habitar

    viver
        florescer
            resgatar
                   terminar
                                
                            em paz

diferente disso aqui que escrevi.

segunda-feira, 29 de abril de 2024

palavra estranha

esse texto fala mais do que diz o texto antes desse
e de toda vivência que me levou a certos aprendizados
mas depois de dias disso cozinhando dentro de mim
__________________________________

assunto intenso, denso, que me deixa todo cheio de ponto de interrogação

até esqueço de rimar

não me ensinaram direito
até porque isso não se ensina

se vive

aprendizado impiedoso e solitário

necessário

por não saber bem o que isso é
a gente precisa se perder todo
até >talvez< entender
que nossa cultura fez parecer que isso é sinônimo de sofrer, chorar largado, ficar doente, desamparado de si

olha o tanto de palavrinha que já lancei
só pra evitar denominar o que pode ser:

"o ápice do sentir"
"explosão interna"
"sensação de um certo desespero doce..."

só de sentir as palavra
já vai acalmando as ideia e o coração
porque se tem uma coisa que estraga esse flow

é a mente na frente.

chega a ser irônico, sarcástico, ácido, 
como a ruína dessa ideia vem de tentar colocar na mente isso tudo que só coração entende.

mas vamos lá, de uma vez, dizer, que eu vim aqui falar de se apaixonar.

puta termo estranho, irmão
cheio de ramificação

paixão,

o bang é tão insano,
que ao mesmo tempo que o dicionário faloa que é

"sinônimo de suportar, de sofrer, perturbação da natureza, doença"

um outro mano lá da Grécia uma vez falou que é

"o que move, impulsiona a pessoa para a ação".

Pathos que vira Práxis.

mais tarde, uma mina brasileira chamou de:

AMOR NO CÉREBRO.

no fim das contas, concluí que ninguém sabe é de nada, pai

tamo cheio de palpitezinho, quando se pá tudo é muito mais simples, ainda que perigoso, tipo viver.

se apaixonar devia acontecer todo dia ao acordar, abrir a janela e ver o sol a te esperar, brilhando lá do alto, te chamando pra viver forte antes que te abrace a morte.

é viver enquanto se morre
morrer enquanto se vive

se apaixonar eu acho que é tudo isso aí que já falaram e também o que ainda tá guardado, que palavra nenhuma decifra (ainda que a gente tente), que é pra não estragar

é o silêncio de olhar sem falar

deixar sempre a possibilidade de transformar isso aí em outra ideia, pra mente nunca poder usar a racionalidade pra assassinar o que veio te ensinar

até as palavras ficam bagunçadas quando elas tão sentindo paixão

paixão real é paixão pela vida
que também pode se abrigar em outra pessoa, já que toda pessoa é vida também

ninguém se apaixona por bloco de concreto morto, pálido

só o que consegue estragar isso é excesso de trauma, falta de cuidado, mundo escroto de ter sem ser

paixão é ironia
tem nela um tanto de fé

essas duas ninguém controla
tamo há uns milênio tentando decifrar

e se o bang for simplesmente parar de buscar?

aceitar é amor,

ser humano enquadrou amor e paixão e jogou eles na mesma cela

a origem é o coração

um: aceitação
o outro: explosão

um pra te apaziguar
o outro pra te religar

                            quando tu se permitir ou tiver a sorte de um dia sentir 

paixão vem pra relembrar que é bonito viver
que é possível sonhar

que tu se apaixona primeiro por si,
pra depois permitir que o que for pra colar contigo

te transborde, 
te torne tudo que tu pode ser,
que te lembre que tu merece viver

            mas que não te complete, porque tu já nasceu inteiro, porra.
            deixa essa ideia bem evidente pra não ficar tropeçando na mesma pedra em toda volta ao redor de si

só cuida
cuidado
atenção
não se apaixona pelo próprio ego
ele é crucial, mas só como ferramenta
não deixa ele virar condução

e se virar: aprende, sente e entende
a gente vive de repetir isso até as corrente quebrar
e a gente poder se libertar.

pra não viver só de sonho
quem sabe um dia despertar.

as palavras vão se dissolvendo nas mãos
a tinta da caneta acaba, 
mas de um texto pra outro, já nem sei por onde comecei

o final é só uma transição
até a ideia que se emenda com o que já se esparramou no papel,

é tudo meio de caminho
meio de folha meio em branco meio não

mas uma coisa eu sei
se não fosse a paixão
nada disso aqui haveria não. 

domingo, 21 de abril de 2024

te olhar é meio que assim

te olhar é ficar pasmo

é o contrário de pensar

é querer mais

ir te conhecendo

sem nunca te conhecer completamente


te olhar é meio que

vamos

sem saber pra onde

é meio que entender que tem coisa que eu não entendo

perceber que se permitir sentir pode ser bom

suave

tipo olhar dentro do teu olho

te olhar é

vontade

de você

de ir passando linha por linha

sem saber onde vai chegando a próxima ideia


te olhar é como que fluir pro presente

é tipo meditação

na intenção de chegar onde for pra chegar

é não julgar

aceitar

que é o mesmo que amar


perceber que é possível sentir isso tudo e não me perder de mim

é bagunçar

mas uma bagunça boa

quando a gente tá cuidando de si

é tipo dia quente de verão com sombra pra ficar e brisa pra tirar

a bagunça não é de se perder de si

mas de rio que começa a fluir forte depois de um dia de chuva,

bagunça de cozinha depois de janta

de quarto depois da gente

de folha navegando a grama com o vento


se fosse só o olhar

tem também te beijar

te beijar é respirar depois de afundar

falta ar

cheio de clichezinho


besta


baguncinha boa nessa mente que já viveu e já morreu um tanto

pra entender que viver,

como bem canta Gaia Piá

"é tá sempre pronto pra partir"

e isso é tão preciso que assusta

aí a gente olha de novo e vê

que além de ir embora

partir também é chegar

é rompimento, quebra

desfazimento de coisa passada

saber que a vida faz da gente o que ela quer

e aí ela dá querer pra gente lidar também

dá vontade de passar um dia todo com você no sofá

esquecer que tem um mundo lá fora

de viver.


não te quero pra sempre

nem a vida quero pra sempre

te quero enquanto a gente se quiser

e depois sigo andando

não em busca

mas em aceitação

de viver o que a vida é

não o que eu acho que ela devia ser.


o que eu acho vale é pouco

o que eu sinto vale é tudo


te olhar é ficar meio besta assim

é meio que

sentir

sem pesar.

dor

o azul do céu é ironia em um coração que sentia. a graça da vida que segue se perde diante do que a memória guarda. sou corpo vi...