não quero falar com ninguém
ver ninguém
ser ninguém
não em definitivo eu acho
assim por enquanto
enquanto de repente minha memória me massacra com o que eu já vi
e eu preciso me recolher não pra pensar
mas pra entender
que pensar já me trouxe dor demais
que minha conclusões precisam morrer
elas que morram
antes daqueles que amo
mais daqueles que amo
que saudades, mano. puta que pariu, isso me arromba todo dia. todo santo dia. eu deito na cama em silêncio de olho fechado e a porta do inferno tá sempre escancarada
só me resta meditar pra fortalecer o que eu sou antes dessa merda de pensamento todo me travar na adolescência do meu ego machucado confuso cego burro mas ainda assim eu
que enfeito qualquer pequena merda pra parecer menos merda
que dom de bosta
auto-manipulação inconsciente
chega dessa merda
eu não tenho sentido muita vontade de viver
mas tenho passado a entender que é porque o que eu antes achava que era vontade de viver
era eu me apegando ao que eu achava que eu merecia
com base no que esse mundo de merda me ensinou a querer
mundo de merda
ainda que lindo
puta dia lindo do caralho lá fora e eu travado na tristeza
travado não
a tristeza chorada colocada pra fora tem um efeito interessante de expurgo
sinto-me melhor, mas não melhor melhor... mais leve, com menos carga eu acho.
vai lágrima, lava essa porra toda porque eu preciso viver.
descobrir que porra é essa na real
eu podia ir pra puta que pariu a pé e dormir na rua foda-se
ou não podia não
provavelmente é eu me convencendo que o que me prende aqui não sou eu
eu colocando a culpa da minha inação no outro
eu me descrevendo enquanto inativo
OLHA PRA SUA VIDA IRMÃO
olha pra tudo o que tu tem feito. toda a carga que já carregou
se respeita
mas cuida cuida cuida com esse ego de bosta que a interação entre eu e o mundo material por meio da linguagem criou
à imagem e semelhança do mundo podre e perdido em que existo
viciado em si auto-centrado confuso com medo ainda de ser surrado por um bando de criança sem amor. vai pra puta que pariu toda história é uma porra de uma tragédia anunciada.